Pesca do amor

O amor é um bem maior. Precisamos achar a isca dele, nos locais onde se esconde, e em todos os instantes; até mesmo, a que existe na ignorância ou em nossa insignificância. Colhamos o amor na mudança, ou na acomodação; na pujança, ou na privação; na espera, ou no desalento. Muitos sofrem, pois neles, a linguagem do amor pode estar encaixotada na gaveta da mente; acobertada pela vaidade, orgulho ou egocentrismo. Na culpa e diante de medos, ele resiste, e flutua de forma incompreendida.

O amor coloca-se na posição alheia; vagueia na solução; foge da solidão; ele se enobrece com boas ações. Onde existe sofrer, ele está de braços abertos; à espera de um senso que traduz, de alguém que reluz, de quem sabe pescá-lo; esperando o abraço da união, da paz e da alegria. Para todos os que fazem terapia, ou buscam o autoconhecimento, lembro uma reflexão do pai da psicanálise, Sigmund Freud, quando diz: "A psicanálise é, em essência, uma cura pelo amor"; observemos, portanto, o precioso cardume de bons valores, dessa profícua pescaria. Ouçamos o afago, o arrimo, o anúncio, o apoio, o apego, o acaso e sua imprevisão; o ocaso, ou apogeu dele. Cresçamos com sua oferta, ou procura; que podem hibernar em muitos instantes. Pescar o amor, também é sentir o puxamento e a fisgada divina. Alguns haverão de jogar redes de ódio, e, doravante, poderão alcançar o amor ocultado no tempo. Nele podemos encontrar a feliz esperança que carecemos (fé, esperança e caridade).

Que estejamos satisfeitos pela pulverização do seu fermento. Vigiemos o barco do amor, que também navega no fundo do mar de nossas questões.

Russen Moreira Conrado
Médico e psicoterapeuta