Participação crescente

O excelente desempenho das exportações brasileiras no ano passado não foi significativo apenas para as bases de comparação internas. Relatório da Organização Mundial do Comércio (OMC), divulgado no mês de abril, destaca que o País logrou um dos resultados mais proeminentes nas relações mercantis entre todos os principais atores internacionais, ampliando satisfatoriamente sua participação nas vendas globais.

A pesquisa, intitulada "Trade and Statistics Outlook", enfatiza que as exportações brasileiras cresceram 17,5%, bastante acima da média mundial (10,5%). Foi a sexta maior expansão anual no grupo das 30 principais potências do comércio exterior, abaixo somente de Rússia (25,3%), Vietnã (21,4%), Emirados Árabes (20,4%), Austrália (19,9%) e Arábia Saudita (18,8%). Pode-se afirmar que o resultado marca sua volta com força ao jogo do comércio global.

Na recessão e na crise política, foi perceptível a perda de influência brasileira sobre os demais "players". No entanto, a turbulência não invalidou sua relevância, e o País manteve-se como uma peça valiosa no tabuleiro comercial, não obstante as perdas. Mirando metas econômicas um pouco mais ousadas após o período recessivo, o Brasil vê no comércio exterior importante mecanismo de propulsão.

A crescente demanda por produtos fortes da pauta nacional foi um dos fatores que possibilitaram o crescimento. Existem outros, como a safra agrícola robusta e a maior produção de bens manufaturados, com destaque para o desempenho do setor automotivo.

De acordo com o Ministério da Agricultura, as exportações do agronegócio avançaram 13% em 2017, somando US$ 96 bilhões. O setor somou 44% de tudo que foi exportado. Também no ano passado, registrou-se a venda de 791 mil automóveis e veículos de cargas para 83 países, incremento de 40% em relação a 2016. Medidas para desburocratizar os processos de importação e exportação, embora não tenham sido preponderantes, ajudam o setor a operar com maior fluência.

É sobre esse hospitaleiro cenário que o comércio exterior do Ceará vem apresentando resultados inéditos. Suas exportações tiveram alta de 62%, no primeiro ano de atividades da Siderúrgica do Pecém. Atingiu, pois, o maior valor exportado de sua história, com o montante de US$ 2,1 bilhões. Para especialistas, a balança comercial cearense já passa por uma radical transformação - fruto do maior peso dos itens semimanufaturados de ferro e aço -, a qual deve se intensificar no futuro próximo.

Em contrapartida, é importante que a base de produtos local não se reduza, pois a diversificação de artigos assegura crescimento mais vigoroso e mantém as exportações protegidas mesmo quando determinado segmento enfrenta crises pontuais. A OMC avalia que o comércio mundial pode seguir na trajetória de crescimento, mas alerta para políticas restritivas de alguns países, o que pode comprometer as trocas internacionais.

O relatório afirma que "um ciclo de retaliações é a última coisa de que a economia precisa", em clara alusão à guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos, em especial contra a China. O volume de negócios entre nações gerado em 2017 foi o maior desde 2011.

A recuperação do Brasil no competitivo comércio mundial abre portas para atividades cruciais, como a agropecuária e a indústria. Mas o protecionismo descabido é uma ameaça ao desenvolvimento das relações comerciais.