Oscilações do emprego

Embora haja sinais irrefutáveis de melhora na economia, o comportamento titubeante do mercado de trabalho continua a incomodar. Os principais indicadores de desemprego apresentam evolução pendular, sem indicar solidez na recuperação. Isso impede que a retomada de parte dos componentes do PIB se dê em ritmo mais acelerado do que o atual.

Com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), o IBGE mostrou que, no fechamento de 2017, a taxa média anual de desemprego ficou em 12,7%, a maior desde 2012. O nível é quase duas vezes maior do que o registrado em 2014 (6,8%), quando o País alcançou a menor desocupação da série histórica.

Na comparação com 2016, o mercado cortou em torno de 1 milhão de postos com carteira assinada. No trimestre de novembro a janeiro, informou o IBGE, o desemprego foi de 12,2%, estável em relação ao período imediatamente anterior, atingindo número aproximado 12,7 milhões de pessoas.

Até mesmo quando é perceptível a queda nos dados de desocupação, o caráter qualitativo da mudança é questionável em razão da informalidade. Em meio à severa crise econômica e à caótica situação política, primeiro, o País perdeu contingente expressivo de força de trabalho, e de forma rápida.

No segundo momento, quando a situação política amainou e a economia saiu da UTI, assinalou-se a célere migração para o mercado informal, no qual a população sem emprego encontrou saída emergencial para obter renda.

O grande problema é que, em geral, essa renda é menor que a obtida na formalidade. E mais: o trabalhador informal não tem estabilidade, podendo flutuar entre atividades pontuais temporárias e a completa ausência de trabalho. Tal insegurança é negativa para toda a cadeia econômica.

Sem ter a mínima clareza do horizonte próximo, essas pessoas, por dedução óbvia, tendem a não adquirir bens de consumo duráveis, a não encarar prestações e financiamentos, enfim, a não mover a economia. Diante disso, o consumo das famílias avança tão lentamente, impulsionando de maneira discreta as atividades econômicas.

As plataformas informais devem ser apenas válvulas de escape àqueles que estão às margens do emprego formal. Ao se tornarem um sustentáculo exageradamente largo no mercado de trabalho, prejudicam o crescimento econômico e o desenvolvimento humano.

No ano passado, em comparação com 2014, o Brasil contabilizou 2,5 milhões de vagas com carteira assinada a menos, enquanto 2 milhões de cidadãos a mais passaram a atuar na informalidade.

Outro indicador do IBGE, a taxa de subutilização de força de trabalho reforça a contínua preocupação com a situação do emprego. A estatística mais recente, divulgada em fevereiro, indica que 26,4 milhões de brasileiros pertencem ao grupo considerado subutilizado, que inclui desocupados, subocupados por insuficiência de horas e ainda os que fazem parte da força de trabalho potencial, como as pessoas que desistiram de buscar emprego.

Está cada vez mais nítido que o comportamento do mercado de trabalho continuará sendo um dos maiores desafios para o País neste ano, mesmo que a economia siga em gradual evolução.

Ainda não se vê consistência na abertura de vagas, e a transformação na composição do setor empregatício, com a informalidade em disparada, reserva dúvidas e apreensão.