Os lauréis da vitória

Dois cardiologistas que prestaram serviço à comunidade foram reverenciados pela Sociedade Cearense de Cardiologia. A Cardiologia foi a especialidade médica que mais cresceu nestes 50 anos. Estive no Johns Hopking, em Baltimore, como um peregrino. Cultuava a memória de nossos monstros sagrados. H. Taussing, A. Blalock, V. Thomas, que realizaram a primeira cirurgia cardíaca no mundo. Pisei no mesmo chão sagrado de William Osler. A história da Cardiologia estava ali. William Halsted, o grande cirurgião que abençoou as mãos dos que nos seus teares, fiam vidas. A história continua pelas mãos de outros talentos. Lá, a fonte que verte. Aqui o rio que corre. E nesta navegação fomos encontrar dois grandes esculápios: Dr. Waldeney Rolim, e o Dr. Glauco Lobo. Entrava eu na faculdade, e Waldeney saia. E ao sair, Glauco ingressava no curso médico. Vindo da minha residência de cardiologia, em Porto Alegre (RS), de novo os encontrei. Glauco um cirurgião competente. Cirurgião geral seguro. Destemido. Afoito com talento. Decidido com responsabilidade. No meio do meu caminho para Crateús, parava em S. Quitéria. Reverenciava a casa de Otavio Lobo, médico em tom maior. Avô de Glauco. Olhava aquela casinha cheia de mistério e de encantos. Pequena. Acanhada. Mas dali verteu o grande Dr. Otávio Lobo. Que foi discursar em latim nos anfiteatros germânicos. Glauco seguiu os passos de seu pai, cirurgião de tórax. Decidiu-se pelas penumbras misteriosas das salas de cirurgia. Foi pioneiro na constituição valvar. No transplante cardíaco. Na cirurgia num coração batendo. Waldeney optou pelos caminhos dos que gemem. Dos massacrados pelo desespero. Para aqueles pobres desiludidos de sair do seu infortúnio. Foi caminhar entre os doentes pobres da Santa Casa de Misericórdia. Fez dela seu porto e sua foz. Pois ali nascia o sol da esperança, daqueles que suplicavam por um pedaço de luz. Corações dilatados, chagásicos, em prantos. O mar se encosta naquela casa santa. Como uma canção dos que gemem. Daqueles que não tendo mais nada, escutam o gemido telúrico do mar. Daqueles que nos seus últimos gaspings, olham para a praça onde tombaram também nossos heróis. Os dois laureados estão de pé. Gráulios ainda caminhando. Sendo fonte e sendo foz. Vertendo esperanças e recolhendo os que se afogaram para sempre no mar da vida. Parabéns.

José Maria Bonfim de Morais
Médico cardiologista