Ocaso de um mito

O mundo gira e em suas voltas e revoltas passa batido pelo Brasil, mas de quando em vez lança-nos um olhar de soslaio. Porém, um olhar mais curioso voltou-se para a figura mítica de um torneiro-mecânico que, saído da fome e da miséria, tornou-se o mandatário maior do país. No contexto interno, a insatisfação com uma política que tendia para a velha oligarquia e o odioso domínio da corrupção tornou cada vez mais visível aquele operário que insistia em conquistar o poder prometendo "uma política diferente", comprometida com os mais carentes e implacável no combate à corrupção.

Da inicial desconfiança chegou-se a um tempo de acreditar, de conferir àquele homem que já havia afinal conhecido a extrema pobreza, a chance de nos mostrar uma decência governamental e um progresso socioeconômico nunca antes vistos neste País. Foi assim que o jingle "Lula lá" comoveu o País. Depois de três vezes negado, foi-lhe enfim outorgado o tão sonhado mandato, por um povo entulhado de esperança e "sem medo de ser feliz". O mundo se encantou com esse exemplo magno de democracia, capaz de conceder tamanho poder a um simples "plebeu" sem lapidação nem curso superior.

Nasceu o Lula mítico. Obama o chamou de "o cara" e várias universidades, inclusive de excelência, como a de Coimbra, lhe outorgaram título de doutor honoris causa. Mas o mundo gira.

Lula hoje pode até ser uma ideia, como alardeou antes de sua prisão, mas com toda certeza atrelada não mais ao que se esperou do mito e sim ao que este tristemente se transformou. Como já dizia John F. Kennedy, "o maior inimigo da verdade é frequentemente não a mentira deliberada, planejada, desonesta, mas sim o mito persistente, entranhado e irreal".

Eduardo Gibson Martins. Juiz de Direito