O bródio

Amizade é um presente precioso. Os amigos são pérolas, que não achamos no mar das procelas profanas. São pérolas que catamos dentro de nosso coração. Muitas vezes um coração pisado. Machucado. Balançando num peito roto. Soergue com o beijo benfazejo de uma amizade. Como é prazerosa a amizade. Não diz quando chega. Nem se um dia vai chegar. Não diz quando parte, pode ser que nunca parta. Mas pode um dia partir e nunca mais voltar. Juarez Leitão é uma amizade, dos tempos ditosos das nossas infâncias. Lustosa da Costa afirmava que amizade não se herda. Um dia partimos por víeis diferentes. Objetivos iguais. Queríamos ser padres. Erramos de mão. Fomos lutar por outros ideais. Não menos nobres do que o sacerdotal. Juarez foi presenteado por uma fantástica mulher. Uma graciosa Maria. Simples. Simpática. Com o coração carregando esperanças. Com a alma a borbulhar de Deus. Enternecida. Amável. Alegre. E sobretudo lutadora. Incansável. Bródio é um termo inserido nas poesias de Drummond. É uma festa animada. Pois o aniversário da Maria foi um bródio de lirismo e poesia. Poemas agachados no dorso da saudade. Dos olhares irrequietos. Dos beijos apaixonados. Dos abraços calorosos. Juras de construir castelos de esperanças. Abater os muros do egoísmo e da inveja. E fazer do abraço uma oração de cada dia. Nem me dei conta que era noite de luar, pois os astros estavam transitando entre nós. Foi a noite da família. Nada é mais belo do que uma família. Estávamos numa mesa com Cambraia, Luiz Marques e Leorne Belém, com suas respectivas esposas. Difícil repetir aquele encontro. A netinha premiada maior, dizia para nós que a Pátria tem jeito. Ela nos traz o verniz da nova aurora que este Brasil sonha. Ali naquele quintal de saudades e canduras, parecia que o maior poema era o poema divino. O poema do encontro. O grande poeta Jorge Tufic, morto recentemente escreveu o soneto de Deus. Dizia no seu belo poema que o passarinho era o pergaminho, onde Deus escrevia os seus versos. Naquela noite ditosa, Maria deitava poesia com as escritas de sua vida. De mãe extremada. De esposa apaixonada. De filha amada. De amiga prestativa. O pergaminho éramos seus amigos. Era a sua bela família. Juarez e Maria juntos não ergueram altares santos. Fizeram muito mais: ergueram catedrais de afeto. Naquela noite, acendiam as lamparinas das nossas recordações, para lembrar que o pergaminho de Deus não é o passarinho. O pergaminho de Deus é o estuário familiar, onde escorre a água alegre da felicidade.

José Maria Bonfim de Morais
Médico e cardiologista