O amoroso Abade

O mosteiro de S. Bento de Fortaleza, festeja 25 anos de fundação. Nada se comparada a historia dos beneditinos. São Bento de Núrsia (480-550), na mesma região de Francisco de Assis, é o pai de todos os monges. De origem nobre, Bento coleou-se ao sagrado. Fez o religioso sair do átrio das igrejas, ou das clausuras, para trabalhar. Fez um conjunto de regras que afastava o monge do poder. Regras voltadas para a simplicidade e humildade. Ora et labora. Reza e trabalha. O lema de uma instituição que brinca com os séculos. Ao se aposentar de sua missão abacial, Dom Beda Holanda veio abrir um mosteiro em Messejana. Certo dia na missa de domingo, ele falou: "hoje nossa dispensa não tem nada.

O pouco que tinha, dividimos com os pobres aqui da Paupina." Esta homilia foi uma experiência de Deus em mim. Acredito nesta religião libertadora, que faz esta opção extremada pelos mais sofridos da comunidade. Beda nasceu em 8 de agosto de 1938. Faria 80 anos. O seu corpo está sepultado no próprio mosteiro. Na entrada do convento foi erigido seu busto. Lembrar aquele que plantou com lágrimas. Semeou com tanto sacrifício. Hoje, colhemos com alegria.

Filho de Ouricuri, Pe. Beda saiu do sítio Pilões, para a abadia de um dos mais significativos mosteiro beneditino. O belo mosteiro de Olinda. Nascido no mês de agosto. Fértil de esperança. Nasceu há uma semana de João Vianney, o Cura D'Ars. Encostado em Edith Stein, a judia convertida. Morta no holocausto. Pertinho de Maximiliano Kolbe, a presença de Deus entre os escombros de Auschwitz. A prova extremada de amar o próximo. Próximo ao dia dos pais. Abade é pai. Aba é paizinho. Vizinho a Dom Bosco, o piemontês pai da juventude. Junto S. Mônica e de seu filho Agostinho. O portentoso santo da humanidade. Ao reverenciá-lo, reverenciamos o menino simples de Ouricuri. O abade humilde da grandiosidade de Olinda. Reverenciamos o pregador cativante. Passos lentos. Oração fervorosa. Coração aberto. Abraçando todos os que se achegavam a ele naquela missa dominical preciosa.

Beda era o profeta que fala no silêncio. Foi estoico na sua doença. Foi maior do que sua própria dor. Ninguém dobra um profeta. E jamais um profeta se dobra. No seu silêncio, ele grita e fala. E as amargas flores amarelas podem rir na tumba do profeta.

Enganam-se as flores. Nada adianta as rosas mourejarem. Ou murcharem. Um profeta não morre. Vai ao deserto e encontra Deus. Fica em nós encontra saudades. Encrava-se na história. E vive nas nossas caminhadas.

José Maria Bonfim de Morais
Médico cardiologista