Nem artista & sem sintaxe

Gostaria de ser artista de ou em alguma arte. "Toda arte é verdadeiramente inútil", diz assim Oscar Wilde, no prefácio de sua obra famosa "O Retrato de Dorian Gray". Partindo desta manifestação quando é sabida e conhecida sua sofisticação, adepto do esteticismo (a arte pela arte) não fica fácil entender o que quis dizer Wilde. Há que interpretar-se que Wilde por 'inútil' não quis dizer "imprestável".

Sugeria que o valor da arte está além de sua utilidade prática. E aí, objeções e interpretações podem ser feitas à frase, como exemplo: muitas obras foram concebidas, sim, com alguma utilidade em mente. Verdade que algumas obras tendem a esvaecer-se com o tempo. Outras, enigmáticas, misteriosas, instigantes, algumas milenares, outras centenárias, como: a Esfinge, monstro fabuloso, com corpo de leão e cabeça humana. Famosa é a Esfinge de Gisé (Gisé), cidade do Egito, às margens do Rio Nilo, esculpida em plena rocha, com 17 metros de altura e 39 metros de comprimento.

Os gregos fizeram da Esfinge um animal misterioso e a introduziram na sua mitologia. O que é, pra quê, o que diz? A Gioconda (ou Mona Lisa), obra de Leonardo Da Vinci, com o enigmático e sempre estudado (e nunca interpretado) sorriso estranho, aquele olhar profundo e quase hipnótico que a retratada Mona Lisa nos "fuzila". Taí, duas obras marcantes, com história e não bem entendidas e interpretadas.

E eu dizendo que gostaria de ser artista em alguma arte! A que mais me aproximei (engana-me que eu gosto), é esta, a de escrever. Se assim o faço é tentado (sempre) afastar minhas teias de aranha mentais.

Nem fugaz, nem eterna... Nem prosa, nem poesia... Como as palavras têm cheiro, sabor e consistência, este fazer a que me entrego com tanto gosto, o escrever, o faço na falta de outro que mais e melhor preencha o meu tempo. E sabe, neste ato até sinto cheiros, adores & sabores do que rememoro, do que trago ao papel. Eu, esse "escritor", despossuido de parcos recursos em semântica & sintaxe, só com uma única coisa positiva: fácil em qualquer coisa se inspira, extrai algo, logo vem o (um) mote para mais um texto. A cada gole de qualquer coisa, se me motiva ou diz... Verdade, até sem pretexto, para mais um texto (sem contexto), escrevo, digo, manifesto algo.

Gosto da sintaxe, das emoções puras, espontâneas, aquelas que nos deixam sentir o que realmente sentimos. Usando como usei o termo 'sintaxe', se necessário ou não, esclareço o mesmo: "Parte da gramática que ensina a dispor as palavras para formar as orações para formar os períodos e parágrafos, e, estes, enfim, formar o discurso, o contexto". Explicado, esclarecido, ou mais confuso, confundido?! Explicar é preciso, pois, escrever, dizer, expor não é fácil. Como ser um artista & sem sintaxe... Eis a questão.

Telmo Vasconcelos. Professor