Morreu Philip Roth

Quando estudante, apaixonou-se por Machado. Mais especificamente, por Capitu. Formou um grupo para estudar a heroína machadiana, por considerá-la uma das personagens mais bem construídas da Literatura. Isso nos Estados Unidos, país no qual o interesse por coisas estrangeiras, especialmente latino-americanas, beira o zero. Philip Milton Roth morreu em Nova Iorque na terça-feira, dia 22/5, aos 85 anos, e com ele desapareceu um pouco do romance tradicional.

Conheci-o por sua obra tardia, mais especificamente por sua trilogia na qual pensou os Estados Unidos das últimas décadas, composta por 'Casei com um Comunista', sobre a caça às bruxas dos anos cinquenta; 'A Marca Humana', sobre o período do governo Clinton; e 'Pastoral Americana', este a tratar da guerra do Vietnã.

Romancista tradicional, sem esquecer as conquistas de Kafka e Proust. Pesquisava o assunto, criava o ambiente e construía os personagens. E os construía tão bem que, ao leitor, pareciam possivelmente mais reais que as pessoas que o cercam. Na Pastoral Americana tive vontade de passar meu braço em volta do ombro do pai dedicado, para consolá-lo da decepção de que sua filha tinha se tornado uma terrorista. Em Casei com um Comunista, vi o que o sistema político pode fazer com quem não se encaixa. O leitor lê com proveito os romances de Roth, pois nascem de uma época específica, mas a transcendem, fazendo com que todos se identifiquem com as situações universais que retrata. Universalismo este que já estava presente no seu interesse, lá quando jovem, por um romancista carioca do século XIX. Bom trabalho, Mr. Philip Roth.

Paulo Avelino
Administrador