Melhora na perspectiva

A agência internacional de classificação de risco Moody's elevou a perspectiva da nota de crédito do Brasil de negativa para estável. Além disso, manteve a nota do País (no patamar Ba2). Tal avaliação se distingue do diagnóstico elaborado pelas demais empresas, Fitch e Standard & Poor's, as quais rebaixaram a nota brasileira. Por isso, foi recebida com surpresa até mesmo por analistas de mercado.

O ângulo de observação mais otimista da Moody's em relação ao futuro próximo da economia nacional mostra que existem nítidas discrepâncias quanto ao desenrolar do pós-crise.

Enquanto duas das prestigiadas agências ainda não veem evidências suficientes para melhorar as projeções, mesmo com a evolução de alguns indicadores importantes, outra deposita confiança em mudanças consistentes. Quem está correto? Só o tempo dirá.

Assim como toda empresa ou instituição que se volta a analisar conjuntura e fazer prognósticos, o erro ou a imprecisão são sempre cartas que podem aparecer neste baralho. Vale lembrar que, por negligência ou incompetência, tais empresas especializadas não previram a estrondosa crise econômica mundial que nasceu da bolha de crédito imobiliário nos Estados Unidos, em 2008. Ainda assim, são consideradas importantes fontes para os investidores, os governos e as empresas.

No caso da Moody's, a guinada na percepção se deu em razão da "expectativa de que as reformas fiscais serão aprovadas no próximo governo" e pelo crescimento econômico mais forte que o esperado no curto e médio prazos.

No tocante ao segundo fator, a ponderação parece plausível, pois há informações concretas que o sustentam, como o desempenho do PIB, a melhora da indústria e do consumo das famílias.

Contudo, no que tange ao primeiro, existem muitos fatores que o tornam inteiramente imprevisível, o que reduz a chance de acerto da agência internacional. O motivo: as eleições presidenciais. Mesmo a poucos meses do pleito, cravar o favoritismo de algum dos postulantes é extremamente arriscado, na medida em que paira sobre o País uma densa nuvem de imprevisibilidade política, fruto de anos sequenciais de graves conturbações.

Se, a essa altura, nem os cientistas políticos mais sagazes conseguem fincar pelo menos dois nomes que deverão protagonizar a disputa, é mais quebradiça ainda a hipótese de que o eventual eleito estará em consonância com as reformas fiscais. Este seria o cenário ideal, mas o horizonte real ainda não é visto com clareza. As pesquisas de intenção de voto apontam forte pulverização entre o eleitorado e grandes percentuais de indecisos, bem como de cidadãos que cogitam anular o voto.

Se o futuro presidencial é incerto, também o são as pautas fundamentais para o crescimento. A Reforma da Previdência, por exemplo, considerada crucial para a garantia de sustentação fiscal do Brasil, está parada e sem perspectiva substancial de retomada. Falta disposição também para uma Reforma Política efetiva, em contraposição aos remendos que não modernizam e tampouco tornam mais justa a democracia.

As perspectivas econômicas, neste momento, estão indissociáveis da corrida eleitoral. A tensão só se dissipará quando houver compreensão mais precisa sobre as propostas dos pretendentes e as chances de vitória de cada um. Até lá, deverão ser recorrentes flutuações de câmbio e na Bolsa de Valores e mudanças nas perspectivas da economia.