Mara Hope

O navio Mara Hope estava sendo rebocado para Taiwan, fez uma parada emergencial no Porto do Mucuripe e no dia 21 de março de 1985 conheceu o seu fim: acabou encalhando na Praia de Iracema. Fabricado em 1967, pelo Astilleros de Cadiz (Espanha), o Mara era o mesmo Juan de Áustria.

Figura altíssima de um portentoso petroleiro, com 150 metros de comprimento, esta jovem e renomeada embarcação poderia estar em atividade, apesar do sinistro que sofrera no Texas (Port Neches), quando os bombeiros livrou-o do fogo originário do sistema elétrico, chamas que estavam liquescendo seu combativo dorso de ferro.

Segundo especialistas, uma sucessão de erros na operação de reboque foi causa única de sua extinção precoce. Certo é que o rebocador, responsável por sua condução, ao tentar aportar, acabou mais uma vez fundeando. Noutra ação, finalmente, os práticos conseguiram mantê-lo acorrentado. Surgiram duas hipóteses para encalhe: a própria força da natureza, ou a decisão dos mestres do rebocador em soltar naturalmente as amarras, então aborrecidos com a sua rebeldia.

Essa versão de livrá-lo, de forma deliberada e consciente, nunca foi confirmada pelo pessoal do porto e da capitania. Para os pescadores, o navio escapou das correntes de ferro e, por ele mesmo liberado, procurou sua sina, o estaleiro para seu conserto. Mas há, ainda, aqueles mais espertos e desconfiados que defendem o oposto.

O Mara teve libertação criminosa. Soltaram o velho petroleiro para depois, mais tarde, saqueá-lo impiedosamente, louvando-se no trabalho de mergulhadores e perigosos escafandristas. O fato é que chegaram à seguinte conclusão: no meio da noite, renegadas águas do mar arrebentaram os imensos cabos de aços que os prendia.

Desacorrentado, o solitário cargueiro derivou cerca de uma milha, obedecendo as correntes marinhas, até, finalmente, encalhar. Depois de várias tentativas de mantê-lo vivo, mesmo depois do encalhe, concluíram por sua perda total. Logo, os titulares da embarcação iniciaram uma força- tarefa de desmonte, com o objetivo de recuperar tudo que fosse possível salvar. Paralelamente, seguindo com os mesmos propósitos, os piratas não perderam tempo.

Em 10 anos, o Mara perdeu tudo de precioso, restando sua casca, na verdade, uma grande proa, sobre ela um "inoperoso" guindaste que desafia o tempo. Hoje, mergulhadores destemidos passeiam por seu porão e, os mais astutos, resgatam cobres pesados, oriundos das velhas baterias, então, suporte das instalações elétricas.

Outros por puro deleite escalam o que restou do petroleiro apenas para apreciar a paisagem que se abre, de forma privilegiada, para vista de toda orla, um conjunto arquitetônico de centenas de prédios que borda, com cores e desigualdades de planos e altura, a praia, todo trajeto que vai do aterro à beira-mar.

Durval Aires FIlho

Desembargador