Limitações do aço

Para o Brasil, a ofensiva dos Estados Unidos contra o mercado global em relação ao aço é um fato negativo e contrário a seus interesses. Mas, considerando-se que a imposição poderia ter levado a uma situação ainda pior, o resultado das negociações trouxe males menores do que aqueles que se prenunciavam no início.

Na verdade, chamar o processo de negociação é uma imensa generosidade. O governo estadunidense foi arbitrário desde o momento em que pegou todos de surpresa, em março, ao anunciar uma sobretaxa na importação do aço.

No caso específico da relação com o Brasil, impôs que as autoridades nacionais escolhessem entre duas péssimas opções: aceitar limitar a venda do insumo para os Estados Unidos ou sofrer a sobretaxa de 25% sobre o que comercializar com aquele país. O setor siderúrgico escolheu a primeira opção, considerada menos danosa para a indústria.

Conforme prevê o sistema de cotas, o Brasil não poderá ultrapassar o limite calculado com base na média das exportações para os EUA entre 2015 e 2017. É simples: ao alcançar o teto estabelecido, as vendas de aço endereçadas aos Estados Unidos estão proibidas. Apesar de o setor siderúrgico considerar esta alternativa a menos maléfica entre as que foram postas à mesa, haverá perdas significativas. No caso do aço semiacabado, projeta-se redução de 7,4% em relação ao exportado no ano passado. A mudança será mais agressiva para os produtos acabados. A queda será de até 60%, a depender do segmento.

O injustificável protecionismo do governo de Donald Trump põe freio nas excelentes relações bilaterais que os dois países construíram. O Brasil foi o segundo principal exportador de aço para os EUA no ano passado, com quase cinco milhões de toneladas. Essas vendas registraram, no acumulado dos últimos seis anos, expansão de 66%.

As exportações de aço chegaram a US$ 2,6 bilhões em 2017, o equivalente a aproximadamente 3% da pauta nacional, com os Estados Unidos respondendo por 44% das compras.

A economia do Ceará também pode sofrer as consequências do acirramento comercial. Com a enorme influência da usina siderúrgica do Pecém, o setor foi o grande responsável pela expansão das exportações cearenses e deve impulsioná-las por anos. Apenas em 2017, o Ceará vendeu para os norte-americanos produtos que somaram mais de US$ 420 milhões, dos quais US$ 156 milhões em ferro e aço. Embora ainda não se conheça o tamanho do baque a ser sentido, não é pessimismo admitir a probabilidade de ele ocorrer a médio prazo.

De súbito, a primeira e mais óbvia ideia que surge para contornar o problema é buscar o direcionamento das vendas da mercadoria para outros potenciais compradores. Contudo, o quadro atual torna essa missão labiríntica.

O mercado global está saturado pela grande oferta do insumo, por conta do crescimento chinês nas últimas décadas e, assim, não é fácil captar novas parcerias comerciais.

Existe, nas entrelinhas, o temor de que as medidas protecionistas se irradiem para outros produtos. Os Estados Unidos possuem poder mais que suficiente para provocar atritos consideráveis e revogar importantes conquistas do livre comércio. Resta saber até que ponto vão o interesse e a disposição norte-americanos de causar perturbações às relações mercantis globais.

O isolacionismo tende a eventualmente ricochetear e atingir a própria nação que resolveu dar o primeiro tiro.