Liberal de Castro:o grande mestre

Conheci o professor arquiteto José Liberal de Castro quando entrei no Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará (UFC), em 1981. Tinha abandonado o de Engenharia Elétrica da mesma universidade e estava um tanto perdido. Logo no começo, fui convidado a fazer parte de uma equipe de alunos e professores envolvidos com o patrimônio histórico, chefiada pelo professor Liberal.

A tarefa era levantar algumas casas antigas em Parangaba, que seriam demolidas para o alargamento de uma via. Minha vida mudou completamente após a realização desse trabalho. O patrimônio passou a fazer parte do meu cotidiano, atuando o professor Liberal como uma espécie de mentor, já que me via muito interessado no assunto. Tornei-me estagiário do Iphan. Lá estava ele me instigando, recomendando leituras, sobraçando livros e revistas, provocando-nos com ideias polêmicas, como é do seu feitio.

Aprendi que ele gostava de abrir cabeças e não de fazê-las, o que, às vezes, era muito penoso para os seus alunos, com os quais, aliás, só falava quando matriculados em sua disciplina de História do Renascimento e da Arquitetura Colonial Brasileira. A formatura veio e com ela o receio do desemprego.

Foi ele, juntamente com o professor e arquiteto, Neudson Braga, outro grande mestre e amigo, quem tanto me ajudou nos meus primeiros passos profissionais. Tornei-me professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC em 1991.

Tive-o como colega em seu crepúsculo docente. Mesmo aposentado, Liberal de Castro passou a frequentar, diariamente, a escola, como a chamávamos (ele ainda a chama assim), sempre com uma palavra, um pensamento, uma ideia, às vezes ácidos e rascantes, como é do seu jeito peculiar.

Ainda hoje está lá quase todo dia a nos inspirar, confortavelmente instalado na biblioteca que leva o seu nome.

Liberal de Castro, um jovem nonagenário que não se cansa de apoiar seus pupilos em suas investidas, tal como aconteceu comigo no IAB e no Iphan. Um jovem nonagenário que, como pai de todos nós, às vezes nos dá merecidos puxões de orelha.

Um jovem nonagenário que nunca se viu fatigado em estudar e questionar o conhecimento que tão solidamente construiu e que sempre disponibilizou a quem se interessasse. Um jovem nonagenário, um querido e jovem nonagenário.

A homenagem que o Sistema Verdes Mares presta ao grande mestre, professor Emérito da UFC, além de fazer jus à sua inestimável contribuição à arquitetura e ao urbanismo do Ceará, é também uma deferência a todos nós, arquitetos e urbanistas cearenses, por que não dizer, seus filhos e eternos alunos.

ROMEU DUARTE JÚNIOR
Arquiteto e professor da UFC