Lavadeiras do Pici

Início de 1941. Vila Marupiara, hoje Demócrito Rocha, e áreas vizinhas testemunharam mudanças no viver rotineiro de suas populações. Dava-se a construção da Base Aérea do Pici ou Pici Field, aeródromo da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Fez-se a pavimentação asfáltica do trecho entre a Avenida João Pessoa e o portão de entrada da unidade militar (atual Avenida Carneiro de Mendonça). O consumo de água, dado o empreendimento, exigiu escavação de muitos poços artesianos no local das obras e, até, na Lagoa de Parangaba. Aquele lago natural, afora as serventias normais utilizadas pelos moradores, como água de beber, pesca de pequenos peixes, banho e lavagem de roupas, aproveitamentos outros possuiu, suprindo o campo de aviação. Dos acontecimentos, o marcante deu-se no modo vivencial dos residentes. Ouviram língua desconhecida. Viram veículos estranhos. Conheceram homens diferentes. Receberam um dinheiro esquisito. Tudo se tornou surpreendente e, por vezes, gerador de desconfianças. Mas, o tempo, devagar e sempre, arrumou direitinho as coisas e a vida. Dona Maria do Chicão, lavadeira de nossa casa, contava que a mãe "lavava e engomava para uns soldados. Aprendeu o bodejado deles, ganhou muito, comprou terreno e construiu morada". Ainda, segundo ela, as "Lavadeiras do Pici" foram as pessoas que "mais se arranjaram". Só em 1942, as lavanderias da Base começaram a funcionar e o trabalho rareou. O pai, mecânico, era tarefeiro. Bebia uísque, fumava cigarros Camel e trocava dólar no Bar Avião, quando recebia. Dizia que, foi não foi, uma moça ia a um baile e voltava "Coca-Cola".

Geraldo Duarte. Advogado e administrador