Ingovernabilidade

O País está num impasse, numa crise de ingovernabilidade. E tão grave e imprevisível, tal qual o dito popular: se ficar o bicho pega, se correr o bicho come. Esta situação provocada pela crise dos caminhoneiros, ainda sem solução, e com consequências a curto, médio e longo prazos. Nem o mais experimentado "cientista político" seria capaz de adivinhar ou de prever o tamanho do monstro - criado e cevado pelo próprio governo federal, quando preteriu outras opções de transporte, como o sistema ferroviário e de navegação marítima e fluvial, e concentrou ao longo de décadas todo o empenho, toda a máquina, toda atenção no desenvolvimento da malha e do transporte rodoviário.

A malha rodoviária está caótica, à falta de conservação, e as vias em melhor estado estão privatizadas e cobrando pedágios. Faltou planejamento estratégico, faltou visão de futuro, e se houve, não foi levada na devida atenção pelos "sábios" da máquina oficial e burocrática de ontem e de hoje. E agora estão aí as consequências. Os caminhoneiros descobriram o poder do fogo (ou será da pólvora?) e brincam com fogo a toda hora, como se fosse fogos de artifício.

O País está refém dos donos das frotas e dos motoristas de caminhões, sejam eles autônomos ou não, tenham chefes ou sejam eles próprios seus chefes. E o governo está numa sinuca de bico - pois se atende às classes produtoras contraria a classe transportadora de bens e produtos perecíveis ou não.

No meio de tudo, abestalhada, está a população - o povo sempre capado e recapado, na expressão de Capistrano de Abreu. Até quando, não se sabe, e muito menos o governo.

Eduardo Fontes

Jornalista e Administrador