Inadimplência em alta

O Brasil registrou, em julho, recorde no número de inadimplentes, de acordo com dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). A massa com compromissos financeiros atrasados chegou a 63,4 milhões de pessoas, aumento de 4,3% sobre julho de 2017.

Embora esse contingente já seja enfático por si só, algumas comparações ilustrativas permitem salientar sua dimensão extraordinária. O número de inadimplentes no País equivale à totalidade da população da Itália; pouco menos que o dobro dos habitantes do Canadá; e mais que o triplo dos moradores do Chile.

O painel de dissolução da renda das famílias é espelhado pela fraqueza constante na economia como um todo. As perspectivas de melhora no primeiro semestre foram frustradas pela greve dos caminhoneiros e, para a segunda metade deste ano, o tom será regido pela indefinida corrida eleitoral.

Desse modo, a população segue oprimida por uma miríade de fatores negativos, como o desemprego, o pessimismo do investidor e do empresário, a dificuldade de acesso ao crédito, a incerteza pré-eleição e outros mais. É a fórmula mais que perfeita para o recrudescimento da inadimplência.

O atraso nos pagamentos atinge variadas faixas etárias e de renda. Conforme o SPC, no mês passado, houve redução na parcela de inadimplentes de menor renda (de 29% para 26,7%) e aumento entre os que ganham mais de dez salários mínimos (de 10,6% para 10,8%). A crise está levando até pessoas de maior poder aquisitivo a perderem prazos.

Para os mais pobres, a situação, por óbvio, é mais crítica. Está crescendo consideravelmente a falta de pagamento de contas de serviços básicos, como água e energia elétrica. Em julho, tal categoria foi a que mais contribuiu para a alta do índice geral, seguida pelas dívidas bancárias (cartão de crédito, empréstimos etc).

O fato de tantas famílias não estarem conseguindo honrar alguns dos compromissos mais elementares para a manutenção adequada do domicílio significa, de forma clara, que o dinheiro disponível é suficiente para cobrir exclusivamente o essencial para a sobrevivência, como a alimentação. Esse arrocho amargo tende a manter resfriado o consumo e, por consequência, a atividade comercial e a produção industrial. A inadimplência também avança entre as pessoas jurídicas. Em junho, informou o SPC, a quantidade de empresas com contas em atraso e incluídas em cadastros de inadimplentes saltou 9,41%, na maior alta desde setembro de 2016.

Entre os setores de atividade, as empresas de serviços representam 46,5% do total das inadimplentes. Em segundo lugar, estão os CNPJs ligados ao comércio (44,5%) e, por fim, empresas do ramo industrial (8,6%).

De acordo com outro estudo da Serasa Experian, a inadimplência das micros e pequenas empresas atingiu marca inédita em junho, com 5,174 milhões delas com dívidas atrasadas.

Conforme os economistas da Serasa, a piora se dá em decorrência da "lenta retomada do crescimento da economia brasileira, da dificuldade na geração de caixa das pequenas empresas e do aumento do custo de matérias-primas".

A escalada da inadimplência desperta inexoravelmente preocupação, pois evidencia que a situação do consumidor está deteriorada. Diante de tal panorama, a demanda por produtos e serviços deve se manter retraída, estendendo o ciclo de vagarosidade na economia.