Imprevidência nacional

Estudo elaborado pelo Banco Mundial aponta que os brasileiros estão entre os mais imprevidentes do Planeta. De acordo com o ranking produzido pela instituição financeira - após pesquisa realizada, em 2017, com 150 mil pessoas ao redor do mundo - dentre 144 países, o Brasil é o 101º pior. Somente 11% dos entrevistados reservam dinheiro para a velhice no País, índice inferior ao de nações mais pobres, como Filipinas (26%) e Bolívia (20%); e, inclusive, à média dos países em desenvolvimento, que é de 16%.

Embora o cidadão do Brasil, na comparação internacional, ainda seja um dos mais negligentes quanto ao futuro financeiro, o levantamento do Banco Mundial aponta que houve avanço nos últimos anos. Em 2014, o percentual de indivíduos que poupavam era de apenas 4%. Portanto, registrou-se, em três anos, incremento de 7 pontos percentuais.

Esse período coincide com a recessão econômica. Mostra-se inusitado o fato de as pessoas terem economizado mais justamente na fase de declive da renda e do emprego. Isso pode indicar que parte dos brasileiros tende a pensar no futuro apenas quando se vê em uma situação de incerteza e temor, ainda que o ideal seja valer-se de tal consciência também em época de estabilidade e bonança.

Há que se ponderar também que o percentual de 2017 pode não representar com precisão a realidade, pois a margem de erro da pesquisa é de 3,7 pontos para mais ou para menos.

O certo é que o baixo contingente de cidadãos que se dispõe a criar alicerces financeiros robustos para a terceira idade é deveras temerário. Não é só o futuro dos imprevidentes que está ameaçado, mas também o da sustentação econômica do País como um todo.

Enorme parcela da população se ampara exclusivamente no sistema previdenciário nacional, cujas generosidade e amplitude na concessão de benefícios ao longo da história recente agora ameaçam sua própria sobrevivência.

A necessidade de elaborar soluções realistas para a Previdência se faz ainda mais relevante ante o quadro de inadvertência dos contribuintes quanto ao que virá. O assunto da Reforma da Previdência tem se tornado exaustivo e até pode soar repetitivo, mas ele precisa ser levantado de forma contínua, até que seja encontrado o caminho viável. Fugir do tema indigesto em nada contribuirá para solucionar o gigantesco problema. É do debate aberto e do estudo tenaz que devem surgir as ideias mais argutas.

Não existe período mais apropriado para aquecer as discussões em torno do horizonte previdenciário do Brasil que o atual. O ínterim que antecede a eleição é apropriado para o cidadão entender os planos e entendimentos dos postulantes acerca dos temas que precisam ser abordados. E, peremptoriamente, a Previdência é um desses pontos.

A praticamente três meses do pleito, é inadmissível que algum pretendente ao cargo máximo do Executivo não tenha um projeto preparado para ser discutido. Da mesma forma, os candidatos às vagas do Congresso Nacional precisam estar dispostos a examinar as opções de maneira pragmática e deliberar sobre o assunto, descolando-se de ondas populistas e demagógicas.

Uma vez que a pauta espinhosa dificilmente sairá do lugar no ciclo administrativo vigente, posto que o governo federal e o Legislativo parecem resignados, o imbróglio certamente cairá no colo de quem assumir o comando do Planalto em 1º de janeiro de 2019. Até lá, a questão previdenciária deve ser tratada com transparência e seriedade.