Hipocrisia patriótica

Começou quinta-feira, na Rússia de longa e rica história, a XXI Copa do Mundo, competição máxima do futebol. Neste domingo, quando os comandados de Tite entrarem em campo, contra a Suíça, na cidade de Rostov sobre o Don, a "pátria de chuteiras" mobilizar-se-á sonhando com a conquista do hexa pela nossa seleção. Desde já, as ruas e becos mais simples, na periferia das grandes e pequenas cidades do País, recebem festiva decoração verde-amarela. Mesmo fenômeno se repete em estabelecimentos comerciais, bem como nas repartições públicas, que alteram seus horários de funcionamento para que todos possam assistir aos jogos do escrete pátrio.

Muitos farão suas libações em honra de cada gol marcado, de cada vitória assinalada pela equipe brasileira, na companhia de muito samba e da outra preferência nacional, a cerveja. Assim disfarçamos o nosso permanente "complexo de vira-lata" - mais uma expressão cunhada por Nelson Rodrigues, jornalista e cronista esportivo (1912-1980) - para celebrarmos um patriotismo hipócrita, artificial e falso, tão típico desta nação.

É, minha gente! Enquanto vamos exercitando essa hipocrisia patriótica, em que a maioria se deixa inebriar pelas vitórias de uma equipe formada por craques milionários, esquecemo-nos de nossos dramas. Enquanto tomamos atitudes laudatórias, mergulhando a fundo em clima de Copa, ignoramos o tal complexo que nos coloca sempre nas últimas posições mundiais, nas canchas da saúde, educação, segurança... E, nessa letargia, olvidamos os dramas do desemprego, do desânimo de muitos em face da falta de perspectivas pessoais e profissionais. Cultuamos a bandeira nacional e engalanamos nossas ruas até o primeiro fracasso da Canarinha, quando muitos torcedores, revoltados diante da derrota, rasgam os enfeites e retornam à dura realidade.

A exemplo dos norte-americanos e outros povos que decoram com orgulho, todos os dias, as casas e ruas com suas bandeiras, deveríamos fazê-lo também aqui, com a nossa, na luta cotidiana contra a corrupção, por exemplo! Por enquanto, ainda estamos aprendendo. Quem sabe, um dia, chegaremos lá!

Gilson Barbosa
Jornalista