Gradual recuperação

O primeiro balanço bimestral da produção industrial de 2018, divulgado pelo IBGE, abre margem para avaliações sob diferentes perspectivas. Houve considerável avanço na comparação com janeiro e fevereiro do ano passado, mas, quando o parâmetro são os meses imediatamente anteriores, a situação é diferente.

Conforme a Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, o setor apresentou crescimento de 4,3% na produção, no acumulado da primeira dupla de meses do ano, sobre igual período de 2017. Foi o maior incremento bimestral desde 2011. Para uma economia que ainda sofre com os ásperos resquícios da recessão, tal percentual é ótimo indicativo.

Segundo o estudo, a melhora foi estimulada por ganhos na maioria (21 de 26) dos ramos pesquisados. O IBGE verificou maior dinamismo para bens de consumo duráveis e bens de capital; destaque para a fabricação de automóveis (alta de 14,4%) e de eletrodomésticos (26,5%), sinais valiosos de que o potencial de consumo está se fortalecendo.

Mudando a base de comparação, o desempenho da indústria fica bem mais acanhado. Em janeiro ante dezembro, assinalou-se queda de 2,2%. Já no mês de fevereiro, em relação a janeiro, elevação de 0,2%. De acordo com os analistas do Instituto, o movimento oscilatório indica que a indústria continua se recuperando de forma lenta e gradual, não tendo sido detectados recentes variações na conjuntura capazes de influenciar o compasso do setor.

Em fevereiro, na média, as fábricas operaram 15% abaixo do pico produtivo da série histórica do levantamento, anotado em maio de 2011. O ritmo se aproxima do de abril de 2009, período da crise financeira internacional.

Em que pese a inconstância, especialistas projetam que, ao longo do ano, a indústria solidificará o processo de retomada. O Boletim Focus estima crescimento de 3,8% em 2018, enquanto consultorias e empresas do ramo financeiro chegam a cogitar a possibilidade de expansão de até 5%.

Claro que tais perspectivas levam em conta a eventual estabilidade na economia interna e externa, assim como na política. Em ano de eleição presidencial, pode haver espasmos imprevisíveis.

De todo modo, os empresários do setor estão otimistas e também acreditam que a indústria terá um ano de convalescença. O Índice de Confiança da Indústria (ICI) da Fundação Getúlio Vargas progrediu 1,3 ponto no mês passado, atingindo 101,7 pontos. Trata-se do maior patamar desde agosto de 2003.

Vários componentes do indicador melhoraram, incluindo a visão das empresas sobre o quadro atual da economia, a capacidade instalada e a perspectiva de evolução do pessoal ocupado. Este último item se mostra empolgante, na medida em que o mercado de trabalho ainda precisa de impulsos, e os segmentos industriais têm força para robustecê-lo.

Conforme analisa o Instituto Brasileiro de Economia da FGV, responsável pelo estudo, após um longo período em que prevaleceram respostas desfavoráveis e pessimistas, o setor industrial, gradativamente, volta ao terreno usual no que tange à percepção sobre a situação atual e o futuro.

Enquanto outros grandes setores apresentam recuperação mais acelerada, a cadência da indústria foi particularmente diferente, como se pôde observar no resultado do PIB do setor no ano passado, que ficou estável. Apesar da lentidão e das alternâncias, há razões concretas para crer em resultados satisfatórios para a indústria.