Fuga de capital

A economia brasileira sofreu em agosto fuga de capital relevante, fruto da tensão eleitoral crescente. Investidores retiraram do País US$ 9,8 bilhões (equivalente a mais de R$ 40 bilhões) no mês passado, o maior resultado negativo desde março deste ano, quando o governo oficialmente desistiu da Reforma da Previdência. Em julho, o movimento havia sido oposto, com a entrada de dólares superando a saída em US$ 4,8 bilhões.

Pelo menos no curto prazo, o Brasil não se apresenta como um destino atrativo para o investidor. Para começar, os emergentes atravessam turbulência, suas moedas perdendo valor de forma acelerada e suas perspectivas econômicas sendo postas em xeque.

Após os fortes abalos sentidos na Argentina e na Turquia, os agentes internacionais passaram indiscriminadamente a considerar as nações emergentes como zona de perigo para investimento.

No entanto, é importante ponderar que cada país possui variáveis idiossincráticas e conjunturais específicas, o que não parece estar sendo levado em conta neste momento de nebulosidade. Ocorre que os emergentes estão sendo avaliados como um grupo homogêneo, quando na verdade se distinguem por múltiplas características.

Para esse enfraquecimento, tem sido preponderante a ligação de eventos simultâneos, como a guerra comercial, o robustecimento do dólar e a projeção de alta nos juros nos Estados Unidos. Não só o Brasil, mas os demais países em desenvolvimento também estão padecendo da evasão de dinheiro.

Conforme o Instituto de Finanças Internacionais, o fluxo em carteira dos mercados emergentes encolheu de US$ 13,7 bilhões em julho para US$ 2,2 bilhões no mês passado.

Internamente, o fator eleição é determinante. Estudo realizado por uma consultoria brasileira estima que a cautela com a corrida presidencial foi responsável por 78% da valorização do dólar ante o real neste ano. Sem a pressão eleitoral, defende a pesquisa, o dólar também teria disparado, mas em um ritmo bem menor.

A desconfiança quanto ao real, embora tenha doses de especulação, está atrelada à incerteza tocante às medidas econômicas que serão adotadas pelo próximo presidente. A apertada disputa e o período de campanha resumido são fatores que provocam muitas interrogações sobre o futuro do País, sobretudo em relação a questões inadiáveis, como a Reforma da Previdência.

Faltando apenas um mês para a eleição, o cenário ainda está turvo. Preveem os concorrentes que estarão no segundo turno - ou até mesmo se o pleito será definido ou não no primeiro turno - é impraticável, dada a ampla gama de possibilidades factíveis. É essa imprevisibilidade que incomoda o mercado financeiro, tornando os pregões demasiadamente volúveis. Nas próximas semanas, com o afunilamento da campanha, a volubilidade deve se manter.

A saída de capital estrangeiro do Brasil significa a perda de credibilidade da economia nacional e o consequente adiamento de oportunidades. Todavia, este pode ser um fenômeno temporário, desde que as incógnitas referentes à eleição sejam superadas.

O quadro problemático dos emergentes acende o alerta, mas o primordial é alcançar equilíbrio nas questões domésticas, ampliando as condições de segurança e reduzindo os riscos de investir no País. Resta saber se o escolhido pela maioria da população terá comprometimento com as pautas nevrálgicas.