Fora a idiocracia!

A idiocracia pode ser definida numa paráfrase: é o governo do idiota, para o idiota e pelo idiota. Abraham Lincoln se removeria no túmulo ao senti-la, mas o saudoso e genial Nelson Rodrigues, com muita propriedade, apenas acrescentaria que uma autêntica sociedade idiocrata é a regida por idiotas da objetividade, eis que jamais a mudam, por pura e objetiva idiotice.

Na Grécia clássica, idiotes, que deu origem à palavra idiota, é o indivíduo que não se envolve com política. Por alguma razão, decerto idiota, esse conceito foi se invertendo, até sobrevir a política flagrantemente idiota que hoje nos assola, a indicar que precisamos voltar logo ao clássico conceito grego e pararmos já com essa trágica idiotice.

Voltando a Nelson, o dramaturgo dizia que havia também o cretino fundamental, "o que tenta deturpar o óbvio ululante". Assim, acertou quando definiu "ser o idiota da objetividade também um cretino fundamental", não sendo nenhum absurdo dizer que uma idiocracia, por ser um regime de governo notoriamente cretino, é também uma cretinocracia. Basta checar: se um país é a 8ª economia do mundo, o que poderia ser mais idiota ou cretino que se posicionar em 59º lugar em Leitura, 63º em Ciências e 65º em Matemática num ranking entre 70 países?

E insistir num sistema de ensino que não muda esse quadro há dez anos?! Segundo Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), essa turma aí "não detém conhecimento mínimo para a participação plena na vida social, econômica e cívica".

Só em Ciências (pasmem os céus!), 60% dos alunos não passam do nível 2 numa escala que vai até 7. É um esforço idiotizante incomparável. Nelson Rodrigues já dizia que "o grande acontecimento do século foi a ascensão espantosa e fulminante do idiota". De fato, o que dizer de um país que se gaba de ser pacifista e contabiliza 60 mil homicídios por ano? Nelson já alertava que "outrora, os melhores pensavam pelos idiotas; hoje, os idiotas pensam pelos melhores. Criou-se uma situação realmente trágica: - ou o sujeito se submete ao idiota ou o idiota o extermina".

E vetar a prisão após condenação em Segunda Instância quando só 1% das decisões são revertidas nas últimas? Seria zelar por qual presunção, a de inocência ou a de cretinice? Nelson apenas diria, melancólico: "há situações em que até os idiotas perdem a modéstia".

Na idiocracia todo o poder emana do idiota, mas graças a ele, eleitor idiota, que só vota em cretinos fundamentais. Perpetua o poder da cretinagem e aceita que um elefante branco possa ser construído, desde que ao preço de dois, e com o dinheiro dele, idiota. E assim seguimos, de idiotice em idiotice, até que se alcance a suprema burrice e se firme a pergunta, chamando a chatice: "Eu bem que te disse, não foi, não te disse?". E o idiota, jamais patriota, seguindo o cretino, que cospe no hino, prossegue arrogante, sem peia nem pejo, tocando a vaca direto pro brejo. Que seja só rima e nunca uma sina.

Eduardo Gibson Martins

Juiz de Direito