Estímulo imobiliário

A redução nos juros e a maior oferta de crédito para financiamentos imobiliários, anunciadas pela Caixa Econômica Federal, devem energizar o setor de venda de imóveis e, ainda, acirrar a concorrência no mercado de crédito. Neste momento em que o ímpeto do consumidor se mostra adormecido, em razão da contínua desconfiança com a política e do moroso processo de recuperação da economia, estímulos como esses podem oportunamente inclinar o rumo do consumo.

Nos últimos anos, o segmento bancário de crédito imobiliário ficou mais competitivo. Anteriormente, a Caixa dominava com soberania esse mercado, mas outras empresas ganharam espaço, movimento que, para o consumidor, foi positivo. Isso porque ele passou a ter acesso a uma variedade maior de linhas de financiamento, com taxas mais competitivas.

Em 2018, o banco público já perdeu a liderança no crédito imobiliário com recursos da poupança, sendo ultrapassado por instituições privadas, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). O congelamento das taxas de juro, as quais ficaram inalteradas por 18 meses, e as dificuldades de capitalização foram preponderantes para o enfraquecimento do banco estatal.

Para se ter dimensão, somente em janeiro, assinalou-se encolhimento de 31% no volume de empréstimo imobiliário concedido, sobre igual período do ano passado. Em contrapartida, a Caixa se mantém na liderança geral do segmento imobiliário, absorvendo em torno de 70%, principalmente por ser a principal executora das operações realizadas mediante recursos do FGTS, modalidade em que as taxas são mais baixas.

Justamente por concentrar grande participação, a Caixa tem o poder de induzir mudanças em todo o mercado. Conforme projetam especialistas, é o que deve ocorrer doravante. A Abecip estima que o volume de crédito para a aquisição de imóveis, utilizando recursos da poupança, deverá crescer aproximadamente 10% neste ano, para R$ 48 bilhões. Este seria o maior patamar desde 2015, mas ainda muito distante dos anos de ebulição.

Em 2014, por exemplo, o total dessa categoria foi de R$ 112 bilhões. Para financiamentos com capital oriundo do FGTS, a previsão é que os desembolsos se expandam 19%, atingindo em torno de R$ 69 bilhões. Para além dos efeitos práticos, as novas medidas da estatal possuem significação mais ampla. Trata-se de uma injeção de ânimo para todo o setor imobiliário, o qual ainda busca instrumentos para se desatrelar dos ecos da crise. Ademais, as novidades apontam para patamar crescente na confiança das instituições de crédito, questão com potencial para impelir a economia.

Independentemente do fato de a Selic estar no nível mais baixo da história (6,5%, ao ano), os juros tardam a cair na prática. O mercado imobiliário pode vir a ser o motor do eventual declínio dos juros cobrados a pessoas físicas e jurídicas. Com condições mais atraentes, parte da população pode voltar a cogitar a aquisição de imóvel, objetivo que, para muitos, é estabelecido como estimado sonho individual. É responsável ressaltar que, mesmo com as recentes facilitações, a compra imobiliária demanda reflexão, parcimônia e análise profunda da situação financeira, para que imprevistos não comprometam a conjuntura orçamentária de cada um. De todo modo, as mudanças deverão conferir condições propícias para o maior aquecimento do setor imobiliário.