Escândalo da cruz

Que sentido tem hoje falar da Cruz de Jesus, no meio de uma sociedade que só parece exaltar o prazer e o conforto? Alguns pensam que falar de cruz é exaltar a dor, glorificar o sofrimento e a humilhação. Há um dia no ano em que o centro da liturgia da Igreja não é a Eucaristia, mas a Cruz. É na Sexta-Feira Santa. Nesse dia, a Igreja destaca a riqueza deste momento em que "tudo foi consumado". Quando olhamos o Crucificado e penetramos - com os olhos da fé - no mistério que se encontra na cruz, encontramos o amor imenso e a ternura incomensurável de Deus, que quis partilhar nossa vida e nossa morte até o extremo. O Cristianismo é a única religião em que Deus morre para nos dar Vida. Deus sofre na cruz não porque ama o sofrimento e a dor, mas sim porque não o quer para nenhum de nós. Se Deus agoniza na cruz, não é porque despreza a vida, mas porque a ama tanto que quer que todos a desfrutem, um dia, em plenitude.

A cruz é o lugar onde Deus fala em silêncio. A Semana Santa é, portanto a celebração da confiança sólida e forte da vitória de Cristo sobre as forças do mal e da injustiça. Não é uma celebração da debilidade e do conformismo, e sim do "poder da debilidade" (2 Cor 12,9); do poder nascido da debilidade. Não uma celebração da morte, e sim da vida que nasce em meio a ela. É a celebração do Deus compassivo que através da sua Paixão se torna solidário e compassivo com todos os que sofrem. Pois: "Só um Deus que padece e capaz de se compadecer".

Eugênio Pacelli. Sacerdote Jesuíta