Editorial: Vias interrompidas

Um dos problemas que tiram o sono do brasileiro é a insegurança. A violência urbana tem registrado, por ano, a superlativa marca de 60 mil mortos. Curiosamente, as pessoas parecem menos preocupadas com o trânsito, ainda que sua letalidade seja bastante alta. Anualmente, cerca de 47 mil pessoas morrem em acidentes, nas vias urbanas e estradas do País.

O índice é altíssimo e chega próximo ao número de fatalidades de Nagasaki, imediatamente após a explosão da bomba atômica lançada pelos EUA sobre a cidade japonesa; e dos primeiros dois anos da Guerra Civil da Síria, iniciada em 2011 e ainda em curso. E, para usar como parâmetro, as taxas de mortes no trânsito, basta dizer que os números brasileiros correspondem à metade do que é registrado em todos os 50 estados nacionais da Europa juntos.

O Brasil, claro, não é o único país a pontuar negativamente no que diz respeito à segurança no trânsito. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que os acidentes viários matam aproximadamente 1,25 milhão de pessoas por ano em todo o planeta. Em escala mundial, chega a ser a principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Além do prejuízo social, a mortandade no trânsito tem um grande impacto econômico, correspondendo a gastos da ordem de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) desses países. E são os países desenvolvidos, grupo do qual faz parte o Brasil, os responsáveis por 93% das mortes por acidentes de trânsito.

As taxas mundiais levaram as Nações Unidas a lançar, nove anos atrás, o projeto "Década de Ação pela Segurança no Trânsito (2011-2020)". O objetivo é incentivar governos em todo o mundo a tomarem medidas de prevenção de acidentes no trânsito. O trabalho em conjunto, transnacional, tem surtido efeito. Os números registrados hoje são menores do que aqueles do passado recente.

O Brasil também tem, progressivamente, reduzido o número de fatalidades em vias públicas. A previsão é que o País registre 33 mil mortes em acidentes de trânsito até 2020. Ainda está muito distante das taxas de países desenvolvidos, como Alemanha (3,5 mil mortes por ano), França (3,2 mil) e Reino Unido (1,8 mil).

A capital cearense segue essa tendência de redução das mortes no trânsito. Dados divulgados pela Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos (SCSP), com apoio da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global, mostra uma retração de 40% dos índices nos últimos quatro anos. O levantamento registrou uma redução de 30,4% no número de óbitos de motociclistas - o tipo de usuário mais vulnerável e que representa o maior número de vítimas.

É preciso compromisso do Poder Público e participação ativa da sociedade para que os números, rápida e progressivamente, deixem de ser imensos e estarrecedores. Merece atenção, por exemplo, um dado negativo que surgiu no último levantamento sobre os acidentes fatais na Capital. O aumento de ciclistas mortos no trânsito: de 19 casos, em 2017, passou-se a 23, no ano passado.

É preciso que condutores, de todos os tipos de veículos motorizados, ciclistas e pedestres, adotem práticas defensivas, conscientes do uso coletivo de espaços que exige não apenas o cuidado de si, mas também o cuidado mútuo.


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