Editorial: O desafio dos vencedores

Das eleições do último domingo, que surpreenderam até os próprios institutos de pesquisa - que só acertaram no prognóstico de boca de urna, emergiu, cristalinamente, um recado do eleitor à classe política. Em todos os estados, os resultados do pleito - com as raras exceções que confirmam a regra - significaram uma advertência grave aos que, no Executivo ou no Legislativo, se acostumaram à prática do ilícito. O povo tratou de uma parte dos corruptos, alijando-os da atividade política e encaminhando-os ao julgamento da primeira instância judicial.

Há um Brasil novo emergindo do pleito do último dia 7. Na maioria dos estados, a eleição dos governadores foi decidida no primeiro turno, como aconteceu no Ceará, onde quase 80% dos votos válidos - um tsunami - garantiram a reeleição de Camilo Santana. Noutros, se-lo-á na segunda jornada, marcada para o dia 28 deste mês, também um domingo.

Em Minas Gerais, Romeu Zena, do Partido Novo, ambos até então desconhecidos do público e também das instituições que apuram a opinião pública, saltou de 2%, há um mês, para 42,82%, no dia da eleição, matriculando-se no segundo turno com todas as chances de tornar-se o primeiro governador da última legenda licenciada pelo TSE. Agora, ele governará a terceira maior economia do País.

Qual foi seu discurso vencedor? A moralidade, o compromisso com a gestão voltada para o bem comum, a transparência e o equilíbrio das contas públicas pela via do corte dos gastos supérfluos, incluindo a redução da frota de veículos que servem à extensa burocracia estatal, o fim do toma lá dá cá, a tradicional troca de cargos por votos no Legislativo.

É este o receituário que deve dar rumo à futura gestão do Governo da União, cujas contas somente serão consertadas por meio de um rigoroso ajuste fiscal - gastar menos e melhor e arrecadar com eficiência e rigor, evitando as fraudes que se registram na Previdência Social, na Saúde, na Educação e nas licitações.

Ao fim e ao cabo da eleição presidencial deste 2018, os brasileiros querem ver, de uma vez por todas, o fim das relações incestuosas que, ao longo de cinco séculos, misturaram, criminosamente, os interesses públicos e privados.

A corrupção, que desvia para outros fins os recursos destinados a programas e obras públicas, é uma praga que precisa de potente inseticida, e nada mais poderoso nesta hora do que o princípio ativo do voto livre e soberano do cidadão.

Os eleitos ou reeleitos no domingo passado - muitos dos quais estreando na atividade da política partidária - devem estar cientes de que, vigiando suas ações no Legislativo ou no Executivo, estarão seus eleitores, a imprensa, o Ministério Público, a Polícia Federal, as Polícias estaduais e a Justiça. Há, pois, um cerco fechando-se contra os que hoje ainda tentam ludibriar a Lei e seus agentes.

O conluio de agentes públicos com empreiteiras, descoberto pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal e em processo de punição dos culpados pelo Poder Judiciário, do que nasceu a Operação Lava Jato, é o freio de admoestação aos que acabam de sagrar-se vencedores da mais acirrada disputa eleitoral dos últimos 50 anos no Brasil. Que eles constituam uma seleção de alto nível de que hoje carece o País para o salto de qualidade moral tão esperado do seu estamento político.

Há, neste momento, na própria política brasileira, bons exemplos a serem seguidos, inclusive aqui no Ceará. O Parlamento, remoçado pela recente eleição, tem o desafio de recolocar o Brasil nos eixos.