Editorial: Eleição sem risco à democracia

A somente 11 dias do segundo turno da eleição presidencial, os dois lados que a disputam - o PT de Fernando Haddad e o PSL de Jair Bolsonaro - se acusam, mutuamente, de representar um risco à democracia, pois, de acordo com o que dizem e repetem os candidatos e os seus porta-vozes, o adversário tem vocação para o totalitarismo. Sob qualquer ponto de vista e submetidas à análise do bom senso, essas advertências acusatórias são apenas o resultado da paixão eleitoral que exacerba os ânimos, principalmente a tão pouco tempo do próximo dia 28, data do pleito. Até aqui, apesar dos ataques verbais e até físicos, estes mais raros do que aqueles, a campanha segue a mobilizar, agora de maneira intensa, quase toda a população do País, mas tudo dentro das regras do jogo político e subordinado à legislação. Tudo segundo o maravilhoso rito democrático, nada mais além disso.

O Brasil e os brasileiros experimentamos os chamados anos de chumbo do regime militar e aprendemos a lição de como é ruim e trágico viver sob uma ditadura, seja ela de esquerda ou de direita. Um regime ditatorial, quando se implanta, começa por cortar as liberdades, e a primeira a ser ceifada é a da livre opinião. Nos países totalitários - como Cuba, Venezuela, Coreia do Norte, Turquia e China, por exemplo - é proibido o contraditório, pois o que vale e impera é a voz única do partido e do seu líder que dominam o poder pelo uso da força. A democracia só existe com o voto livre do cidadão e com a imprensa mais livre ainda.

No Brasil, a imprensa goza da liberdade para fazer o que tem feito - fiscalizar as ações dos governos, denunciando seus erros de gestão e suas práticas de corrupção. A Operação Lava Jato - que descobriu, investigou e colocou na cadeia, por decisão judicial, grandes e respeitabilíssimos empresários e famosos políticos, entre os quais ex-governadores - é uma prova clara de que as instituições estão a funcionar de maneira plena. Isto não é pouca coisa.

Qualquer que venha a ser o resultado do segundo turno desta emocionante eleição, o Brasil e os brasileiros sairemos dela mais fortalecidos e muito mais dispostos a impedir que vingue qualquer aventura para além do que estabelece a Lei. Os dois candidatos à Presidência da República comprometeram-se - e nem precisariam tê-lo feito - a respeitar o resultado do pleito, numa atitude apenas gestual, porque aceitar a derrota e cumprimentar o vencedor é prática rotineira nas democracias, e isto também acontece aqui. Assim, insistir no discurso de que a vitória de um representará um risco à democracia é subestimar a inteligência do povo brasileiro, que ama a liberdade, de cujas grandiosas e eloquentes virtudes não quer mais separar-se.

Envolvidas pelas suas diferentes mídias - através das quais trocam informações, transmitem orientações, expedem ordens, emitem críticas e até produzem falsas notícias - as redes sociais, que tomaram conta da campanha eleitoral deste ano, serão, tão logo se proclame o resultado final das urnas, objeto de pesquisa dos cientistas políticos, que terão muito trabalho para encontrar respostas a muitas perguntas. Esses estudos, provavelmente, serão a bússola que dará o rumo às próximas eleições, a começar pela de 2020, que elegerá prefeitos e vereadores. Mas serão eles, com certeza, que atestarão a maturidade da democracia brasileira.

Sabemos que, por trás do discurso democrático de alguns, esconde-se o desejo ideológico do totalitarismo. Os que dessa maneira se comportam são lobos em pele de cordeiro: usam a democracia e suas liberdades para chegar ao poder e depois a golpeiam. Felizmente, a população brasileira - confirmou recente pesquisa - quer a democracia.


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