Editorial: Condições para o futuro

O futuro é um destino impreciso, sobre o qual se projeta desejos, expectativas e mesmo temores. No plano político, frequentemente se refere a este tempo vindouro, como o momento da realização das promessas de ontem e de hoje. Destas, a mais concreta é, certamente, o segmento populacional mais jovem. Que as crianças são o futuro de um País é uma verdade tantas vezes repetidas que chega a parecer um clichê desgastado, mas a mensagem que imprime é profunda e, ainda, inegável.

Os investimentos em crianças e adolescentes, necessariamente, parte de uma multiplicidade de instâncias da sociedade. São imperativas as atenções especiais para os mais jovens em áreas como a saúde, indo de vacinações a campanhas educativas; e a educação. Também são bem documentados os resultados dos investimentos, a eles direcionados, com ações de esporte e cultura. Isso para ficar nos exemplos mais evidentes.

O desafio, sobretudo da gestão pública, é que cada Secretária, em nos níveis municipal e estadual, e cada Ministério do Governo Federal atue consciente da necessidade de estar atento aos pequenos cidadãos, às suas especificidades, viabilizando políticas públicas cujos resultado serão mais bem sentidos em alguns anos.

A equação tem o aval do economista norte-americano James Heckman. Laureado com o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas em 2000, ele é uma autoridade mundial em Economia do Trabalho, com estudos sobre a eficácia de programas de educação para a primeira infância, etapa que vai do nascimento aos seis anos. A partir dos resultados obtidos em pesquisas empíricas, James Heckman defende a tese de que investir no desenvolvimento de crianças nesta faixa-etária tende a ser mais eficiente no combate à desigualdade social do que políticas de distribuição de renda.

No Brasil, a desigualdade social histórica e os efeitos da severa crise econômica que se arrasta desde 2014 dão contornos colossais ao problema e impõem obstáculos de alta complexidade para serem contornados. O País tem 20 milhões de crianças na primeira infância. Um terço delas faz parte de famílias que sobrevivem com até um salário mínimo por mês. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 5,2 milhões de brasileiros de 0 a 14 anos vivem na extrema pobreza e 18,2 milhões, na pobreza. 

É uma parcela do futuro do País em condições de extrema vulnerabilidade social. Para contemplá-la com políticas sociais efetivas, que permitam um correto investimento, é preciso que as ações voltadas para crianças, sobretudo a da primeira infância, contemplem suas famílias, em suas mais diversas possibilidades de configuração. E isso vale não apenas para a dimensão educacional da questão. 

O lazer, o esporte e a cultura, em especial, têm potencial extraordinário para promover esta integração. Possibilitam a aproximação dos núcleos afetivos em torno dos jovens, proporcionando um melhor acompanhamento de seu desenvolvimento, físico, emocional e intelectual. São ações, ainda, que têm resultados imediatos, com a ocupação de espaços públicos e ressignificação da relação das pessoas com a cidade. E, num ciclo virtuoso, impactando positivamente no futuro da coletividade.