Editorial: Combater a desinformação

Não exagera quem entende que as eleições de 2018 já entraram para a história. Entraram, sim. E por duas portas: a da tecnologia e da modernidade e, no oposto, a do atraso, da picuinha, da desinformação, do jogo baixo. Trata-se, como é possível notar, de uma nítida e grosseira contraposição entre virtudes e deformações.

As redes sociais se constituíram nos cenários de embates acirrados entre apoiadores de uma ou outra tendência política. Poderia não ter sido assim. As refregas deveriam ter sido debates de ideias, a intensidade das agressões poderia ter sido aplicada na criatividade de propostas e a aspereza do bate-boca substituída pelo aprofundamento da busca de soluções para as demandas do País. Perdeu-se, como ainda se tem perdido, muita energia.

É natural que uma disputa entre apenas dois candidatos, na etapa final de um importante processo eleitoral, venha a dividir corações e mentes. A polarização, então, não é motivo justo de queixas, já que é consequência das regras de um jogo que mobiliza a inteligência e a emoção.

Isso é tudo parte explicável pela política, pela psicologia e pela sociologia, que estudam as opções dos cidadãos e o comportamento que estes assumem. A polarização é, portanto, presumível para situações dessa natureza e se faz presente em toda a linha do tempo da civilização. Paixões também movem a política, sim.

A grande referência, apesar de negativa, tem sido as fake news - ou "notícias falsas", traduzindo ao pé da letra para o português. Mentiras, no fim das contas, que em muitas situações vêm dando norte a julgamentos e decisões que, pela complexidade que os reveste, exigem exatamente o oposto do excesso e da perturbação: temperança e serenidade.

Mas não se imagine que, mesmo aparentando força incomum, a avalanche de falseamentos que já dão a impressão de soterrar o discernimento social e sufocar as instituições não pode ser vencida. Ao contrário. Com ações rápidas e exemplares, as representações cidadãs pode dar as respostas devidas.

Conhecimento há, o que implica potencial para conter a desinformação. No início do ano, o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro do Superior Tribunal de Justiça Luiz Fux, já indicava possíveis consequências para a proliferação de fake news nas redes sociais: "Uma propaganda que visa destruir candidatura alheia pode gerar uma configuração de abuso de poder que pode levar a uma cassação".

Já a atual presidente do TSE, ministra Rosa Weber, avalia que não deve haver açodamentos nem pressa nas apreciações da Corte, posto que "a Justiça Eleitoral não combate boatos com boatos", e que "há um tempo para resposta responsável". Eis aí a chave necessária e indispensável: "resposta responsável".

De qualquer maneira, entre todas as leituras que se possam fazer das declarações dos magistrados, cabe ao eleitor buscar a comparação de informações, o cotejamento de dados e mesmo a apuração sobre a fidelidade das fontes que as transmitem. Afinal, trata-se de permitir a sobrevivência da democracia e a vitória da verdade.

Não se pode deixar, por questões de responsabilidade, de organização coletiva e de interesse público e de preservação dos valores mais elementares, que o ilegal prepondere sobre o legal, que a força prevaleça sobre a razão, que o direito titubeie diante da pressão deletéria.

De fato, o pleito de 2018 entrou para a história por duas portas. Resta à sociedade escolher qual deve ser mantida fechada.


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