Editorial: Combate antecipado

Os primeiros casos de dengue no Ceará foram registrados em 1986. De lá para cá, a doença impôs-se como um tormento contínuo à saúde da população. No período, o Estado enfrentou sete grandes epidemias, nos anos de 1987, 1994, 2001, 2008, 2011, 2012 e 2015. Neste último, a crise foi agravada pela disseminação dos vírus chikungunya e zika no território cearense, transmitidos pelo mesmo vetor da dengue, o mosquito Aedes aegypti.

Em 2018, o Ceará documentou um acentuado declínio nos números da dengue (e das doenças causadas pelos vírus chikungunya e zika). De 24.786 mil casos confirmados, em 2017, chegou-se a pouco mais de 3 mil, no ano passado. Os trabalhos de prevenção e o aumento da imunidade da população cearense estão entre os motivadores da reversão do quadro. São dados para serem celebrados, mas não devem motivar a euforia de quem vence uma guerra. Contra a dengue, ano a ano, travam-se batalhas. 
Inspira cuidado a perspectiva para 2019. As autoridades sanitárias alertam que o sorotipo 2 da dengue pode reaparecer, após uma década de ausência no Estado. A informação foi veiculada em um balanço divulgado pela Célula de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), da Capital. Em mais de três décadas de incidência da doença, os pesquisadores identificaram uma tendência a um comportamento que segue ciclos regulares, com alternância do tipo predominante entre os quatro sorotipos da dengue.

A última epidemia causada pelo sorotipo 2 foi em 2008 – a maior enfrentada pelo Ceará até então. No ano seguinte, essa variação começou a se exaurir, sendo superada pelos sorotipos 4, que atingiu índices elevados de disseminação, na crise epidêmica de 2012, e 1, reaparecido em 2011 e predominante até o ano passado, quando os relatórios registraram sua exaustão. 

A preocupação para este ano é justificada, dada a regularidade dos ciclos de epidemias da doença, o que favorece a reaparição de variantes há tempos ausentes. O retorno do sorotipo 2 pode ser facilitado pelo deslocamento de pessoas no território nacional. Esse tipo de dengue já está presente, isoladamente por enquanto, em alguns estados do País. 

A dengue provocada pelo sorotipo 2 é mais agressiva do que a do sorotipo 1. Na possibilidade de sua reincidência no Estado, é importante reforçar os cuidados com gestantes, idosos e crianças nascidas na última década, que já podem ter se infectado uma vez por outra variação da dengue, mas que não têm defesas para aquela. A enfermidade se manifesta com fortes dores abdominais, respiração acelerada, palidez súbita, tontura e vômitos recorrentes.

As regras básicas do embate com a dengue seguem as mesmas. Quando os sintomas característicos da doença se manifestam, é importante procurar ajuda médica especializada, com urgência, e garantir hidratação e repouso ao doente. Para evitar a doença, num esforço coletivo de grande responsabilidade social, é preciso atuar em consonância com as medidas das autoridades sanitárias, cuidando de ambientes domésticos e de uso público, acondicionando de forma adequada o lixo para a coleta sistemática e eliminando recipientes capazes de acumular água parada e se converterem em criadouros do mosquito.


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