Editorial: Atenção à saúde mental

Habituado a ser destaque entre seus pares na América Latina, o Brasil é detentor, também, de uma triste liderança: é no País onde se encontra o maior número de casos de depressão da região. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 5,8% da população brasileira - 11,5 milhões de pessoas - sofrem com a doença. A gravidade do problema se traduz em outro dado: os quadros depressivos correspondem à principal causa de suicídio em todo o mundo.

As pesquisas mostram que o problema avança numa velocidade que não é acompanhada pelas medidas para contê-lo. Estas avançam mais lentamente e problemas como o da formação de pessoal especializado, em quantidade suficiente para dar conta do número de pacientes, requer além de recursos, tempo. Em dez anos, de acordo com a OMS, os casos de depressão cresceram 18%, em escala mundial. No ritmo atual de expansão dos casos, a expectativa dos especialistas é que, em 2020, esta seja a doença mais incapacitante do planeta.

A depressão não é o único problema de saúde mental que tem se expandido em todo o mundo. Também foi registrado um crescimento do número de registros de Transtornos de Ansiedade, categoria que inclui pelo menos 12 enfermidades diferentes. Não há grupo livre do problema - ele é documentado em pacientes de todas as idades, gêneros e classes sociais. A pobreza, claro, agrava o problema, já que, em condições precárias, a informação e os tratamentos são menos acessíveis.

Num levantamento abrangente, levando em conta dados informados pelos 177 países membros da OMS, que correspondem a 97% da população mundial, a entidade chamou atenção para um abismo entre as ofertas de tratamento. Nos países de baixa renda, registrou-se uma média de trabalhadores de saúde mental extremamente baixa: apenas dois profissionais disponíveis para atendimento por cada grupo de 100 mil habitantes. Nos países de alta renda, este número salta para 70 profissionais.

Os indicativos contrastam com uma necessidade incontornável: estima-se que uma em cada 10 pessoas vai precisar de cuidados de saúde mental em algum momento da vida. Além disso, na prática, a demanda não corresponde à real extensão do problema. O forte estigma, que acompanha todos os males no campo da saúde mental, é um obstáculo adicional para que as pessoas que sofrem com a doença procurem ajuda. Apenas metade delas não recebe tratamento médico necessário.

Combater a depressão, em várias frentes, é um desafio de primeira ordem para os governos de todos os países e, no caso brasileiro, exigindo ações conjuntas, nos três níveis de governo - o federal, o estadual e o municipal. A enfermidade tem consequências nefastas, com impactos negativos que vão além da tragédia humana.

A saída passa por investimentos, imediatos e de longo prazo; pela construção coletiva de ambientes mais saudáveis do ponto de vista emocional; e pelo esclarecimento, para reduzir o estigma sobre esta e outras doenças e para evitar a simplificação, bem intencionada, mas potencialmente prejudicial, de quem acha que o problema se resolve olhando para o lado luminoso da vida. Cuidados especializados são indispensáveis.