Editorial: abrir o Brasil para o mundo

Ainda celebrando a vitória de domingo passado, o presidente eleito Jair Bolsonaro passa pelo seu primeiro teste de estresse. Ele prometeu uma vida nova aos brasileiros - nova na política, na gestão, nos costumes e nas atitudes do Governo, que tem de dar o bom exemplo, a começar pela lição de que só gastará o arrecadado. Por enquanto, à sua frente está um déficit orçamentário de cerca de R$ 120 bilhões com o qual sua administração entrará no exercício de 2019. Seu futuro ministro da Fazenda, Paulo Guedes, está a prometer que será possível, no prazo de um ano, transformar esse déficit em superávit. Mas há uma pedra no caminho dessas boas intenções: o Congresso Nacional, que aprova ou rejeita os projetos de lei. Tramita na Câmara dos Deputados uma proposta de reforma da Previdência que divide o presidente e seus mais próximos auxiliares. Para Onix Lorenzoni a reforma encaminhada pelo presidente Michel Temer não passa de um "remendo". Mas Bolsonaro - que dá a última palavra - quer aproveitar as últimas semanas da atual legislatura para aprovar a Reforma da Previdência, por menor que ela seja. Isso será um forte sinal para o mercado e também para os deputados e senadores da próxima legislatura.

Já denominada de "mãe das reformas", a da Previdência tem o objetivo de estancar a hemorragia do Orçamento Geral da União, uma vez que a maior parte da receita tributária não vai para os investimentos, mas destina-se ao custeio das aposentadorias e pensões e da folha do pessoal ativo do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, além do serviço dos juros da dívida, que avança na direção da marca de 80% do PIB. Como superar esse desafio? Reduzindo o tamanho do Estado e de sua máquina administrativa, cortando gastos e buscando novas receitas pela via das privatizações e da venda de imóveis. Nos governos do PT, criaram-se mais de meia centenas de novas empresas estatais, uma das quais é a Empresa de Planejamento e Logística, nascida em 2012, em pleno governo de Dilma Rousseff, com o objetivo de construir um trem de alta velocidade para ligar Campinas a São Paulo, algo que não passa de fumaça, mas que, assim mesmo, mantém uma estrutura com mais de 140 funcionários com salários de até R$ 20 mil, tudo bancado pelo contribuinte.

Bolsonaro e Guedes desejam recolocar o País de cabeça para cima e na rota do crescimento econômico. Para isso, terão de fazer como o equilibrista do circo: manter rodando todos os pratos. O futuro Governo recebeu das urnas a procuração da maioria da população para adotar as medidas necessárias à rápida superação de uma crise herdada da incompetência do governo Rousseff. Não é nem será fácil, mas esta é a última chance de reformar radicalmente o que precisa ser reformado, a começar pelos costumes tradicionais de o Executivo relacionar-se com o Legislativo, sem a obscena e caríssima troca de votos por verbas e cargos.

No front externo, devem ser também revistas - e já há bons sinais neste sentido - as relações comerciais do Brasil. É necessário revitalizar os negócios com o estrangeiro, para o que devem ser buscados acordos bilaterais que dinamizem as nossas exportações e importações. O Mercosul tenta há mais de 15 anos um acordo com a União Europeia, mas a intransigência e a estreiteza de visão de alguns parceiros têm impedido o êxito dos entendimentos. O Brasil, contudo, pode, sozinho, celebrar um acordo bilateral com a UE, desbravando novos mercados para seus produtos manufaturados e para as suas carnes e frutas.

Enfim, abrindo o Brasil para o mundo e tornando liberal a economia do País, o futuro Governo, com o apoio do Congresso, poderá cumprir o que prometeu.


Assuntos Relacionados