EDITORIAL: A inteligência contra o crime

Um dos principais destinos turísticos do País, Fortaleza tem atraído a atenção não apenas dos turistas, mas também de investidores nacionais e estrangeiros. E não é sem razão. Para além das belezas naturais da cidade e do seu entorno, a capital cearense é a sede de algumas das maiores empresas brasileiras - a líder do mercado nacional de águas minerais, a maior do setor industrial latino-americano de massas e biscoitos, a primeira da área de café torrado e moído e uma das três maiores redes de farmácias do País. Têm sede aqui também a líder do mercado de lácteos e o maior plano de saúde da região Nordeste e a primeira empresa do Brasil a fazer parte da Nasdaq, a bolsa de Nova Iorque que negocia ações de empresas de tecnologia.

São vantagens comparativas que tornaram esta cidade uma referência nacional quando se fala de qualidade de vida, alta gastronomia, cultura, entretenimento, lazer. São virtudes que, somadas à permanente luminosidade e ao mar de verdes águas que a bordejam, transformam Fortaleza numa rica rima poética. Há mais virtudes que a tornam encantadora.

Poucas cidades nordestinas têm uma malha viária tão eficiente quanto à de Fortaleza. Seu transporte público já se faz pela modernidade dos trens do metrô e do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), cuja primeira linha, prestes a ser concluída, já opera experimentalmente na ligação de populosos bairros, aliviando um pouco o extraordinário fluxo dos automóveis, ônibus e caminhões pesados que congestionam - como em todo o mundo - suas ruas e avenidas, agora cortadas por viadutos e túneis.

O futuro desta cidade é promissor, graças aos novos empreendimentos que se implementam, a começar pela ampliação do seu Aeroporto Internacional Pinto Martins, hoje sob administração da mais admirada empresa privada do setor, a alemã Fraport.

Mas há defeitos em Fortaleza, e o principal deles diz respeito à segurança pública. Afirmam e repetem as autoridades do Governo do Estado e da Prefeitura Municipal que têm investido, financeira e materialmente, na modernização do seu aparato policial. É verdade. Mas também é verdadeiro que o crime organizado - alicerçado no tráfico de drogas - ampliou não apenas suas ações, mas a zona geográfica de sua influência.

Em alguns bairros da periferia da cidade, a circulação de pessoas e veículos está condicionada a exigências impostas pelos traficantes, poderosamente armados para combater as forças policiais. Noutros bairros, as escolas são proibidas de funcionar por ordem dos chefes de facções. Ainda não chegamos à situação do Rio, onde os serviços públicos - como o da coleta de lixo - e os privados, como o de energia elétrica, o de telefonia fixa, o de banda larga e o de distribuição de gás são controlados por milícias paramilitares que cobram proteção contra os seus homônimos.

Uma ação mais eficaz, contundente e permanente, do estamento policial - militar e civil - é o que pede a população mais pobre de Fortaleza, que quer de volta o direito de ir e vir sem ser ameaçada pelos agentes do crime organizado. Para isso, urge um trabalho de inteligência, de infiltração dos agentes do Estado no meio da organização criminosa para conhecer seu planejamento e impedir a sua execução e até mesmo a infiltração em sentido inverso, o que acontece em toda a estrutura de segurança pública das demais unidades da Federação, a respeito do que, diariamente, as mídias dão notícia.

É necessário garantir a Lei e a ordem, sem o que não haverá progresso. As forças do mal jamais deverão prevalecer sobre as forças do bem, que são a maioria.


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