Editorial: A guerra contra o crime

O ano começou com o Ceará sob ataque. O crime organizado e suas facções decidiram declarar guerra ao comando do Estado e iniciaram uma série de ações, na noite de quarta-feira, o segundo dia do novo mandato do governador Camilo Santana e da gestão do presidente Jair Bolsonaro. Grupos criminosos desafiam o estamento policial com atentados ao patrimônio público e privado, com alto risco para a população.

Os criminosos mostram-se ousados, adotando táticas de terror e dispondo de armamento pesado, incluindo explosivos, tomados em assalto a cargas pertencentes a mineradoras. Estes foram usados em tentativas de destruir viadutos, nas cidades e estradas. 

Suspeita-se que a coordenada ação do crime é uma reação à decisão da nova administração penitenciária de não concentrar presos de uma mesma facção em uma única unidade carcerária. Hoje, essas facções estão presas em penitenciárias distintas com o objetivo de evitar o confronto entre elas. 

O crime no Brasil organizou-se de tal maneira que, hoje, sustenta estruturas que interligam grupos em atuação em todas as regiões do País. Facções se expandiram, mantêm cúmplices locais e arregimentam novos soldados para sua guerra em prejuízo da sociedade. Instalou-se nas capitais do Norte e do Nordeste, incluindo Fortaleza, e daí partiu para as cidades do interior cearense. 

Neste momento, a população dos municípios da Região Metropolitana de Fortaleza convive com o pânico, uma vez que a ação dos bandidos acontece a qualquer hora da noite e à luz do dia e em locais diferentes, surpreendendo as forças da Lei. Na guerra dos criminosos contra os agentes da segurança do Estado, os primeiros valem-se não apenas do confronto armado, mas também do medo que despertam na população, temor que cresce à medida que se avolumam os ataques. 

Ciente da gravidade do caso e antevendo a multiplicação de ações criminosas, o Governo do Estado pediu ajuda à União, que prometeu o reforço de tropas da Força Nacional. Não há dúvida de que, daqui para a frente, pelo menos na sensível área da Segurança Pública, os dois lados terão de trabalhar de forma conjunta, pois o inimigo, que é um só, cresce em todas as capitais. No Rio de Janeiro, são comuns os relatos sobre como as facções impedem o acesso dos serviços públicos a bairros e favelas. Aqui em Fortaleza, há bairros em que, à noite, é expressamente proibido o tráfego de veículos com vidros fechados e o uso de capacete pelos motoqueiros. Ordem que ninguém das comunidades ousa desrespeitar. Diante do absurdo a que se chegou, só a parceria das forças do Estado e da União tornará possível enfrentar com êxito o incrível desafio dos líderes das organizações criminosas. 

O governador Camilo Santana, durante a campanha para a sua reeleição, prometeu ação firme contra o crime organizado. E o presidente Jair Bolsonaro disse e repetiu em sua campanha que uma de suas três prioridades seria o combate ao mesmo inimigo. A crise põe à prova as promessas feitas. A sociedade brasileira – e a cearense, por certo, incluída – espera que o crime organizado seja combatido e enfraquecido pelas forças legais no mais curto espaço de tempo possível, obedecidas, naturalmente, as normas constitucionais vigentes. 


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