Editorial: a favor do coletivo

Há reformas pela frente. São necessárias e improrrogáveis. Não podem ser deixadas em plano inferior sob pretexto nenhum. Independentemente do caráter ideológico que tenha ou que se queira relacionar às forças políticas que se alternam no poder, é fundamental atualizar os parâmetros legais que normatizam o País, uma vez que os muitos mecanismos relacionados aos interesses dos cidadãos podem, por seu intermédio, se ajustar e se sintonizar.

Revisões dos sistemas previdenciário, trabalhista, tributário e político, ou mesmo do tamanho e do peso do Estado, todas, com seus tempos, suas características e suas demandas próprias, têm importância e se afiguram como vitais para o País.

O preço de ficar parado é infinitamente mais elevado do que o de se movimentar num campo de riscos ou o de buscar se alinhar aos cenários e às tendências internacionais. A imobilidade é, certamente, uma ameaça acentuada e a omissão é certamente um erro sem precedentes. Deve-se fazer, e não esperar.

As reformas necessárias não tratam, vale ressaltar, apenas de elementos econômicos, alguns atribuídos ao dito "mercado" e suas imposições. Nem de longe. Tratam-se, a rigor, da autonomia e da sobrevivência que a nação determina para si. Sem aprimoramentos, a estagnação seria o cenário mínimo a se prever.

Não devem, pois, ser encaradas como a economia se colocando acima e à frente dos demais elementos, mas como um equilíbrio de soluções em favor dos interesses coletivos. Conceitos econômicos, sociais, educacionais, de trabalho, saúde, habitação, infraestrutura, segurança e mobilidade, por exemplo, se cruzam em situações distintas e compõem uma rede de interesses que alcança a todos os cidadãos e instituições.

Mas, deve-se observar respeitosa e serenamente alicerces como o Pacto Federativo e a autonomia e independência dos poderes constituídos. Sem essa atenção corre-se o perigo de se subverter o sentido da escolha democrática.

O quadro atual no Brasil traz à memória uma emblemática frase do general estadunidense George C. Marshall (1880-1959), autor do plano de ajuda à reconstrução da Europa após a Segunda Grande Guerra (1939-1945). Disse na ocasião: "Não é suficiente apenas o lutar. O espírito que levamos à batalha é que decide o resultado. É a moral que traz a vitória". Fica a reflexão.

No entanto, recém-saído de uma acirrada disputa eleitoral, na qual foram rasgadas profundas feridas nas relações políticas e mesmo pessoais, o Brasil e os brasileiros se ressentem da cisão.

A divisão, convenhamos, é natural das democracias. Afinal, no âmbito democrático ninguém pode ser obrigado a pensar como os outros e cada um está livre para adotar decisões de acordo com sua consciência. Eis, então, uma soma de desafios que cabe à sociedade. Primordialmente, o de se reagrupar, respeitando as deliberações da maioria, seguido de restabelecimento do diálogo entre pessoas e entre grupos organizados.

A isso, pode-se denominar de pacificação dos ânimos, um caminho necessário, essencial em todos os momentos. A unidade nacional é fator indispensável para a construção de alternativas.

Essa pacificação não representa de nenhum modo a inexistência de oposição. Ao contrário. É necessário aceitar a pluralidade de pensamentos, a defesa de posições distintas e o reconhecimento de saberes e teses.

O século XXI vem destacando como símbolo a diversidade, a amplitude de visões sobre um mundo no qual todos, com práticas saudáveis e respeitosas da lei, devem ser acatados e acolhidos.


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