Economia verde

Para além dos benefícios diretos para a sustentabilidade, o conjunto de práticas que constitui a economia mais limpa, do ponto de vista ambiental, é capaz de impulsionar consideravelmente a geração de empregos. Estudo elaborado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), intitulado "Perspectivas Sociais e de Emprego no Mundo 2018", projeta que a economia verde deverá criar 24 milhões de vagas de trabalho no globo até 2030.

No Brasil, segundo estimativa da OIT, deve haver um saldo de 440 mil postos a mais em relação ao panorama atual, mas apenas em setores que se adaptarem a formas de produção menos agressivas à natureza. Incluem-se no conceito a redução de gases nocivos, a utilização de fontes renováveis na geração energética e todas as demais rotinas classificadas como sustentáveis.

Além do setor energético, o qual, conforme o relatório, deverá absorver a maior parte da mão de obra, outras atividades como construção civil, agricultura, turismo e pesca devem ser positivamente influenciadas com a adoção de práticas impolutas. No caso da economia nacional, nos próximos 12 anos, calcula-se que 137 ramos contratarão mais, enquanto 26 eliminarão empregos.

A indústria de produção de energia a partir dos ventos concentrará a maior parte das vagas geradas, com quase 80% do total. O setor eólico desponta como forte fonte de formação de empregos no futuro, um contexto otimista para o Ceará. O Estado apresentou evolução de 7,5% na geração eólica no ano passado, firmando-se como a terceira potência do País no setor. Os avanços deverão vir acompanhados da abertura de oportunidades de trabalho.

A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) avalia que, até 2026, a cadeia de energia eólica vai impelir a criação de 200 mil empregos diretos e indiretos. Além disso, o crescimento da energia eólica é importante para descentralizar a produção energética brasileira, oferecendo maior solidez no sistema de abastecimento. Outra seara que merece destaque é a chamada economia circular, composta por atividades como reciclagem, reparos e remanufatura. Ela possui o potencial de atrair 6 milhões de empregos ao redor do mundo.

Das 24 milhões de vagas previstas pela OIT na economia verde, a maioria (14 milhões) deverá ficar na Ásia. Nas Américas, o impacto será de 3 milhões de postos a mais. A desigualdade se dá por conta da dependência de atividades ligadas a combustíveis fósseis e energia não renovável em cada região.

O parâmetro fundamental do levantamento para chegar a tais projeções é a lista de compromissos estabelecidos no Acordo de Paris. Se o Brasil colocá-los em prática, defende a análise da OIT, espontaneamente as oportunidades de trabalho surgirão, na medida em que se criará demanda por mão de obra. O objetivo central do Acordo de Paris é desacelerar o aquecimento global, reduzindo a emissão de gases poluentes.

As visões mais retrógradas, tal como a do atual governo dos Estados Unidos, acreditam que seguir o tratado internacional pode causar retrocesso econômico. A pesquisa da OIT aponta o contrário. É possível crescer e gerar oportunidades de emprego simultaneamente ao acolhimento de critérios conscientes que respeitem a conservação do planeta. Justamente nesta fase de ruptura tecnológica, em que a automação desafia a manutenção de milhões de trabalhadores em diferentes países, a economia sustentável pode ser um relevante reduto empregatício.