Dona Fideralina

A escrita biográfica é o registro da história, posto que discorrer sobre a vida e a obra de uma personagem constitui o resultado de garimpagem dos fatos protagonizados por quem de alguma forma deu contribuição ao caminhar da humanidade, cavalgando sonhos, engendrando mitos, construindo realidades nas quais se espelham - ou se eximem de fazê-lo -pósteras gerações.

Dimas Macedo, poeta, crítico, investigador contumaz dos fazeres e estrepulias da gente sertaneja, sobretudo dos construtores da civilização do Vale do Salgado onde se assenta bicentenária a sua Lavras da Mangabeira, intentou missão hercúlea de biografar uma das personalidades mais fascinantes dos adustos sertões cearenses, a matrona, Fideralina Augusto Lima, por muitos dita coronela. Bom bacamarteiro das Letras, Dimas completou a missão com louvores. Presenteou-nos não apenas com um vigoroso perfil da mulher extraordinária, que se alteou na política sertaneja no fim do século XIX e limiar do século XX, mas, por extensão, apresentou-nos a teia tecida pelos mandatários de uma sociedade em que a voz do bacamarte dava o tom da linguagem e dos relacionamentos entre desbravadores da hostil seara sertaneja.

Foi neste cenário de aguerridas vontades e insuperáveis tensões, de permanentes lutas pela sobrevivência, que se alteou Dona Fideralina, cujo retrato fica mais fascinante, porque traçado com a escrita fluente, desenvolta e definitiva de um poeta de elevados méritos literários. É ler o livro para comprovar o dito.

Barros Alves

Poeta e jornalista