Djavan lança disco com mensagem musical direta e fluida

Novo trabalho de Djavan, intitulado de Vesúvio, é o 24º na carreira do artista que planeja uma turnê para 2019

Pouco meses antes do aniversário de 70 anos, Djavan recorre a um dos expedientes mais bem estabelecidos durante a trajetória musical, o contato com os elementos do universo pop. "Vesúvio" escancara a visão de um artista empenhado em ser o mais universal possível. O 24º disco do alagoano é marcado pelo cuidado com a mensagem sonora. O som precisa chegar fácil nos ouvidos dos fãs, necessita ser cristalino.

Desde a estreia como compositor, com "Fato consumado", em 1975, o alagoano desenvolve uma musicalidade também guiada por elementos da natureza. A inspiração está lá fora. Assim, o novo trabalho se projeta como um registro onde o cantor segue no domínio de todas as etapas de criação.

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Além das crias auditivas, outra paixão na vida pessoal são as orquídeas, tratadas com esmero na propriedade do artista, localizada no meio da Mata Atlântica. "Orquídea" é o nome de um samba presente no novo álbum. Tem terra e fogo na arte conceitual do disco. São 13 canções de um realizador à vontade com os próprios destinos.

"Na verdade, quando cito o pop, quero falar de um disco mais fluido, com concepções mais simples. Como minha formação tem foco na diversidade, atravesso esse gênero, obviamente, sem pretender ser um especialista na área como outros artistas são", aprofunda o entrevistado por telefone. Cada pedaço do material disponibilizado na última sexta-feira (23) respeita essa premissa.

Construção

O poder avassalador da natureza permeia de cara a primeira faixa. A canção-título, "Vesúvio", irrompe com violões e elementos percussivos. "O Sol é de Ouro", argumenta o letrista. Em seguida, a radiofônica "Solitude" fala sobre equívocos nas escolhas da vida e adentra uma seara política carente de discussão. "Guerra vende armas, mantém cargos, destrói sonhos, tudo de uma vez".

"Dores gris" reserva letra também cheia de imagens de natureza. A construção melódica, harmônica e poética busca ser orgânica e os arranjos ao teclado amarram tal tentativa. "Tenho medo de ficar só" soa intensa e confessional, quase ao pé do ouvido. A pegada funk é revisitada em "Cedo ou tarde" e pouco decepciona.

"Viver é dever" adentra o universo do pop rock sem percalços. "Madressilva" se chega quase como um contraponto e evidencia a facilidade de Djavan em adentrar outros ritmos. "Mãos dadas" é outra imersão no groove, resgata uma pegada setentista com a grife de Stevie Wonder.

Elementos

O bolero "Meu romance" reaparece ao fim do disco em versão em espanhol intitulada "Esplendor". Inserido como bônus, trata de dueto gravado com o cantor e compositor uruguaio Jorge Drexler, autor dos versos em castelhano. "A ideia é mexer com esses gêneros, sempre tentando renová-los. É um trabalho de formiguinha, onde tento colocar de maneira contemporânea um pensamento sobre tudo. A natureza sempre foi elemento inspirador. Vem desde que eu era menino, minha mãe me ensinava as constelações, o nome de plantas da Zona da Mata, da Caatinga. Guardo até hoje o que vem desse período. Sempre foi um elemento inspirador. Tudo que você conserva advém da natureza", argumenta.

"Entre outras mil" recorre ao lamento digno das músicas românticas. "Um quase amor" é esperta e parte desse mérito repercute a escolha das composições dos músicos de apoio.

O vibrafone jazzístico de Jota Moraes costura as intenções do compositor. Completa o time o guitarrista Torcuato Mariano, os pianistas Paulo Calasans e Renato Fonseca, o baixista, Arthur de Palla e o baterista Felipe Alves.

Djavan entrega um trabalho consistente com a discografia criada ao longo das décadas. Mostra um realizador ainda motivado a pensar as melhores possibilidades de dialogar com o público. Com sete décadas de vida e uma turnê mundial anunciada para 2019, o alagoano segue natural e condizente com o próprio ecossistema imaginado por ele. Deve agradar fãs de diferentes fases, mais universal impossível.


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