Desemprego em alta

O desemprego voltou a subir. E o pior: em compasso acima do esperado por analistas. No primeiro trimestre, informou o IBGE, com base em dados da PNAD Contínua, a taxa avançou para 13,1%, atingindo 13,7 milhões de trabalhadores, contingente 11,2% maior em relação aos três meses anteriores. Trata-se do pior índice desde o trimestre de março a maio do ano passado. O exercício de 2017 foi encerrado com taxa de 11,8%, resultado de uma gradativa sequência de quedas, mas no início deste ano, o cenário mudou de forma preocupante.

O aumento do desemprego faz surgirem múltiplas questões acerca da retomada econômica. Seria ela mais frágil do que se imaginava? O País dispõe das condições necessárias para superar definitivamente a crise? As perguntas que nascem da inquietação precisam de tempo para ser respondidas a contento. Contudo, é fato consumado que o panorama ora percebido apresenta incongruências em relação às expectativas traçadas.

Todos os levantamentos que buscavam antecipar o resultado do primeiro trimestre erraram. Um deles auscultou em torno de 30 consultorias e instituições financeiras, as quais, na média, apontaram que o desemprego ficaria em 12,9%. As projeções mais otimistas cravaram 12,2%. A dificuldade de especialistas em entender o que se passa com a economia brasileira diz muito sobre o momento de imprevisibilidade que toma conta do País.

Passada a recessão, a melhora de alguns setores e indicadores importantes abriu caminho para a retomada do crescimento. Não apenas aquele módico avanço do ano passado (quando o PIB se expandiu 1%), mas um crescimento que possibilite passos mais largos. As pedras no caminho, contudo, parecem ser maiores do que se pensava.

A conjuntura do mercado de trabalho pode pressionar as futuras decisões do Banco Central no tocante à condução da política monetária, impactando o quadro geral da economia. O problema afeta também a confiança dos consumidores, empresários e investidores.

Logo, há motivos substanciais para o arrefecimento nas projeções acerca do PIB de 2018. Os últimos relatórios do Boletim Focus mostram a queda do otimismo. O mais recente, divulgado no dia 7 de maio, avalia que o Brasil crescerá 2,7%. Um mês antes, os analistas acreditavam que a expansão seria de 2,8%. A piora revela uma rápida e alarmante perda de fôlego na economia, a qual está cingida de temores.

Diante das frustrantes estatísticas do mercado de trabalho, o presidente Michel Temer, em recente declaração, insistiu que o desemprego não cresceu, apesar da objetividade dos números apresentados pelo IBGE. De acordo com ele, na verdade, "aumentou a quantidade dos que procuram emprego".

Com essa fala evasiva, o presidente mina a credibilidade do principal estudo técnico sobre o tema desemprego, ao mesmo tempo em que se mostra desconectado da realidade. Neste estágio de incerteza e volubilidade, os 13,7 milhões de desempregados, de certo, queriam ouvir, no mínimo, explicações convincentes, ao invés de desculpas escorregadias.

Nota-se também que a falta de uma agenda econômica persuasiva, neste momento de inércia congressual, contribui para a tendência de lentidão produtiva. Seriam bem-vindas injeções de estímulo, no entanto, é improvável que elas ocorram, na medida em que as atenções, cada vez mais, se voltam para o processo eleitoral. Para o cidadão em busca de emprego, o horizonte próximo não é claro.