Desalento na Saúde

O baixo acesso a médicos especialistas, o longo período de espera para realização de consultas, exames, cirurgias eletivas e outros procedimentos, além da fragilizada estrutura de ações preventivas contra as doenças mais letais são obstáculos enfrentados rotineiramente por quem recorre aos serviços de saúde pública.

Embora o diagnóstico da maioria dos problemas seja de amplo conhecimento há tempo, são poucas as medidas que foram concretizadas com capacidade para solucionar essas dificuldades.

Em face dos transtornos e da letargia em resolvê-los, o clima de desalento da população se reflete em pesquisa encomendada pelo Conselho Federal de Medicina ao Datafolha. No levantamento, quase nove em cada dez das mais de duas mil pessoas ouvidas classificaram a situação da saúde pública como péssima, ruim ou regular. No estudo, também salta aos olhos a constatação de que 39% avaliaram que o tema deve ser a primeira prioridade do governo federal.

A pesquisa confronta ainda a opinião generalizada de que o mau atendimento é exclusividade do SUS (Sistema Único de Saúde), ao dividir o levantamento entre associados ou não a um plano de saúde. No grupo atendido em hospitais e clínicas particulares, a burocracia exigida para autorizar alguns procedimentos é a principal fonte de insatisfação, mas também há reclamações quanto à falta de acompanhamento do paciente realizado pelo médico.

Na rede pública, apesar de muitos usuários reconhecerem o acesso facilitado a remédios gratuitos e a exames de laboratórios, vários deles relatam dificuldade na obtenção de exames de imagem, vaga de internação na UTI, cirurgias e consultas com especialistas.

Neste último quesito, aliás, evidencia-se uma contradição. O número de médicos formados no Brasil disparou nos últimos anos e elevou o total de trabalhadores em atividade inseridos nessa categoria, contudo, esse salto jamais foi perceptível em regiões de menor porte devido à má distribuição geográfica dos profissionais por estados e municípios.

A expansão na quantidade de médicos resultou na concentração desses profissionais nas capitais, que já dispõem de mãodeobra proporcional ao total de habitantes, enquanto os moradores de vários municípios afastados do centro de seus estados continuam sem ter número satisfatório de trabalhadores na área da saúde que correspondam à demanda.

Sem a distribuição equilibrada de médicos e outros profissionais de saúde, existe, portanto, parcela expressiva da sociedade que fica à margem da rede de atenção básica, esfera da qual se podem extrair as melhores estratégias para reduzir o alcance de determinadas doenças.

O próprio Ministério da Saúde reconhece a complexidade das medidas com o intuito de corrigir as deficiências do setor, como o Programa de Saúde da Família (PSF) e as campanhas de vacinação. Pois, se tem verificado, a cada ano, a diminuição da cobertura vacinal de crianças até cinco anos de idade contra gripe, poliomielite, caxumba e rubéola. O fato revela a magnitude do desafio.

A queda é, em grande parte, explicada pela falta de informações dos pais sobre os benefícios que seus filhos obteriam a partir da imunização. Mas, ao mesmo tempo, denuncia que o setor está falhando até mesmo na tarefa de conscientizar a população sobre a importância da prevenção. É urgente reparar tais deficiências, para impedir que enfermidades já superadas ressurjam e ampliem a frustração do usuário em relação à eficiência de um serviço essencial.