Desaceleração industrial

A indústria continua em processo de desaceleração. Estatísticas trimestrais do IBGE mostram com clareza a perda de fôlego do setor. Nos três últimos meses do ano passado, a indústria avançou 4,9% na comparação com igual período de 2016. Já de janeiro a março deste ano, a expansão, também no paralelo inter-anual, foi de 3%. No segundo trimestre, o ritmo de crescimento continuou a cair: 1,7%.

Depois da melhora no ano passado, quando a produção industrial registrou incremento de 2,5%, o setor entrou em inflexão neste ano. Frise-se que as projeções para a performance econômica brasileira no primeiro semestre eram bem melhores, o que contagiou também as estimativas para a indústria. Analistas, empresários e consumidores depositavam esperanças de retomada mais forte em 2018, mas, de modo geral, a realidade se mostrou frustrante.

A demanda se manteve tímida nos primeiros meses do ano, e a greve dos caminhoneiros aboliu qualquer chance de aumento no dinamismo, prejudicando de forma relevante a indústria.

Com isso, o setor que vinha mirando objetivos mais ambiciosos após a longa recessão volta a encarar o temor de regressar à estagnação. De acordo com levantamento realizado pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo, entre a segunda metade do ano passado e o primeiro semestre deste ano, aumentou o número de segmentos industriais em crise.

Em 2017, 26% dos 93 ramos industriais pesquisados estavam em situação crítica e neste ano já são 36%.

O Iedi classificou a crise em dois níveis: a moderada (quando a retração vai de 1% a 4%) e a intensa (queda de 4% a 10%). A quantidade de segmentos que se enquadra no nível mais severo pulou de 9 para 16; na moderada, a elevação foi de 11 para 13. As atividades têxteis e ligadas à construção civil se destacam entre as que mais vêm sofrendo com a oscilação econômica.

Conforme dados do IBGE, a indústria opera 14% abaixo do pico produtivo assinalado em 2011. Essa fenda foi maior, no entanto, a lenta recuperação recente foi suficiente apenas para o setor voltar ao ritmo de uma década atrás. Ainda segundo o IBGE, a produção de bens de capital é 35,6% inferior à máxima histórica de setembro de 2013. Quanto à fabricação de bens duráveis, o distanciamento é de 22,6% em relação ao recorde obtido em junho de 2013.

A confiança da indústria, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), recuou 0,4 ponto em agosto, para 99,7 pontos. É o menor nível desde janeiro, quando marcara 99,4 pontos.

São estatísticas que ajudam a elucidar o quadro industrial. A recessão atingiu esse setor com força descomunal, fazendo-o retroceder anos no que diz respeito à energia produtiva. É justamente por tal motivo que a recente desaceleração causa preocupação. Além da apreensão com a campanha eleitoral e da letargia dos investimentos, a alta do dólar e a confiança do consumidor em baixa são barreiras para a indústria, ainda mais com a piora do cenário econômico na Argentina.

Em busca de recuperar o tempo perdido, a indústria esbarra na paralisia da demanda interna e na longa espera por notícias conclusivas no plano político.

A expectativa é que a trajetória de desaceleração seja revertida no segundo semestre, o que seria importante para energizar o setor e irrigar o mercado de trabalho. Contudo, restabelecer o compasso produtivo da época de pujança ainda levará muito tempo.