Degradação litorânea

De leste a oeste, a zona litorânea do Ceará vem sendo erodida em proporções consideradas preocupantes pelos especialistas. Entre os pontos mais críticos, as praias mais afetadas pela erosão contam-se as do Canto Verde, Caponga, Ponta Grossa, Redonda e Peroba, Icaraí, Pacheco, Itarema e Flecheiras. Em Fortaleza, o fenômeno se repete, de modo especial, por ocasião dos períodos de "ressaca" marítima, comprometendo o trecho que vai da Avenida Beira-Mar à Barra do Ceará.

Erosão costeira é o recuo da linha da costa para o interior do continente. Do trecho de 150 quilômetros de praia, entre Caponga e Pecém, 35% estão passando por processo de severa degradação. Afora as mutações que se processam ciclicamente na natureza, as causas humanas desse impacto são decorrentes da ocupação irregular da zona de derma (faixa de praia onde ficam as barracas), das dunas e áreas de mangue, que constituem as estruturas protetoras da costa contra a erosão. Seriam atos que contrariam a Lei Nacional de Gerenciamento Costeiro.

A ocupação desordenada do litoral, além de ser a principal causa do desgaste costeiro, vem provocando déficit no balanço sedimentar, resultando em perdas para o patrimônio paisagístico, urbano e cultural. Há também consequências para as condições ambientais, como a salinização, a contaminação de águas superficiais e a redução da biodiversidade, recursos naturais mais expressivos no meio ambiente.

Como fatores externos agravantes ressurgem a elevação do nível do mar e o aquecimento global. Se não houver uma intervenção pontual e bem planejada, o litoral cearense poderá sofrer os efeitos de uma previsão não desejada: em 2050 o mar poderá aumentar em 50 centímetros a linha de preamar. O fenômeno não ficará circunscrito ao Ceará. Em verdade, ele já ocorre no litoral brasileiro de modo acentuado. A faixa atlântica de Santa Catarina, dotada de 42 praias, tem sido uma das mais atacadas. No Rio Grande do Sul, na Bahia e em Pernambuco, o mar avança em ritmo continuado.

A invasão do oceano sobre os espaços costeiros oscila por região. O Icaraí vem perdendo, a cada ano, 1,5m de faixa de praia. Na Praia da Caponga chega a 7,3m, e na Praia de Itarema, a 3,4m.

No litoral norte de Fortaleza, as soluções adotadas para conter o mar dividem os técnicos. Um grupo é partidário da reposição da areia entre os espigões de pedras para restabelecer seus espaços originais, de modo especial, na Praia de Iracema, nos trechos entre a Ponte Metálica e a Rua João Cordeiro; e na Praia do Meireles, entre a Avenida Rui Barbosa e o Porto do Mucuripe. O segundo grupo de especialistas aponta os espigões como paliativos, caros e, do ponto de vista ambiental, prejudiciais.

A relevância do tema determinou sua inclusão na pauta dos debates da 62ª Reunião Anual da Sociedade para o Progresso da Ciência, a ser instalada em Natal, no Rio Grande do Norte. A proteção das áreas litorâneas deve ser uma preocupação da comunidade científica e, sobretudo, dos governantes, pelo papel por elas desempenhado. Antes que seja tarde.