Definições eleitorais

Com o fim das convenções destinadas a homologar candidaturas e estabelecer coligações, o quadro eleitoral, enfim, ganha linhas mais bem definidas. Essa delimitação é essencial, sobretudo no âmbito da eleição presidencial, a qual está envolta na mais espessa nuvem de imprevisibilidade.

Até o dia 15 de agosto, data limite para o registro das candidaturas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a situação pode mudar, mas a tendência é que os movimentos, se ocorrerem, sejam de baixo eco.

Para o cargo máximo do Executivo nacional, 14 nomes estão dispostos. Não há outra saída aceitável. É desse grupo de postulantes que será escolhido, democraticamente, o homem ou a mulher que terá a responsabilidade de comandar o País, pelos próximos quatro anos, com as tarefas hercúleas de unificar a Nação, reconquistar a confiança do povo, capitanear reformas estruturais e colocar a economia no eixo do crescimento.

Alguns aspirantes costuraram coligações com grêmios de peso, o que lhes agrega maior tempo de exposição na TV e recursos do fundo eleitoral para a campanha. Contudo, não está claro se, neste ano, esses convênios com diferentes legendas terão o reflexo que historicamente ocasionam.

Convém lembrar: 67% dos brasileiros afirmam não confiar nos partidos, segundo pesquisa do Datafolha, divulgada em junho passado. Diante de tamanha insatisfação, atrair várias siglas em torno de uma candidatura, embora seja uma estratégia política das mais naturais, não garante sucesso.

Em contrapartida, há campanhas que farão a corrida presidencial de maneira isolada, sem o apoio de partidos poderosos. A estas, impõem-se dificuldades estruturais, o que também não é sinônimo automático de fracasso nas urnas.

Os candidatos terão pouco tempo para tentar desfazer o prevalente ceticismo da população sobre a política. Faltando apenas dois meses para o pleito, o eleitor ainda se mostra dominado por pessimismo, descrença, indiferença e indecisão quanto à escolha do próximo presidente da República.

O último levantamento CNI-Ibope, divulgado no início deste mês de agosto, trouxe um dado que bem ilustra esses sentimentos: praticamente seis em cada dez entrevistados não possuem candidato, a esta altura. Na pesquisa espontânea, em que os nomes não são apresentados, 31% planejam votar em branco ou nulo, ao passo que 28% não quiseram responder ou não souberam.

A motivação para esse humor arredio do eleitorado é tão óbvia quanto compreensível. As sucessivas fases da Operação Lava-Jato, ao longo dos últimos anos, revelaram o uso da máquina pública para os fins mais obscenos, levando os contribuintes ao estado de choque.

Conquanto seja evidente que existem atores probos, de currículo irrepreensível, no tabuleiro da política nacional, os recentes escândalos fizeram a população suspeitar de forma indiscriminada dos políticos, o que contribui unicamente para fragilizar a democracia e abrir caminho para o surgimento de arrivistas.

É inteligível o desapontamento do eleitor com as alternativas presidenciais, no entanto, ficar alheio ao processo mais importante da história recente da democracia brasileira poderá alimentar a instabilidade. Em momentos críticos, torna-se ainda mais valoroso o dever inalienável de escolher criteriosamente o candidato dotado das qualidades e propostas que se alinhem com um projeto nacional realista, o qual venha a sanar os graves óbices que o País enfrenta.