Crédito para modernizar

Em meio às críticas em relação ao atraso tecnológico da indústria nacional, o governo federal resolveu agir. Anunciou crédito de R$ 9 bilhões para a modernização do parque produtivo, além de isentar o imposto de importação sobre os robôs com o intuito de facilitar o intercâmbio de tecnologia.

O montante, claramente, não será suficiente para efetuar a profunda transformação de que o setor necessita, mas deverá ser um incentivo importante para alavancar tal reciclagem.

O Executivo federal estima que, com esse apoio, em torno de 18% da indústria nacional se remodelem e se alinhem às tecnologias da chamada Quarta Revolução Industrial, da qual o Brasil está distante em comparação com as economias desenvolvidas.

O BNDES desembolsará a maior fatia, R$ 5 bilhões pelos próximos três anos, oferecendo taxas mais atraentes. A Finep, empresa pública que financia pesquisa e inovação, ficará responsável por emprestar R$ 3 bilhões, e o montante restante (R$ 1,1 bilhão), será de responsabilidade do Banco da Amazônia.

A linha disponibilizada pelo programa deverá auxiliar não só as empresas consolidadas a romperem as barreiras tecnológicas, como também os pequenos e novos negócios. Mesmo com ideias inovadoras, as chamadas "startups" normalmente esbarram na escassez de investidores, sobrando-lhes a alternativa de tomar crédito de instituições bancárias e de fomento. Tais empreendimentos são fundamentais para a proliferação de uma mentalidade renovada no setor produtivo brasileiro. Eles estão impulsionando e facilitando a entrada de várias empresas no mundo da Indústria 4.0.

É preciso, portanto, viabilizar o apoio financeiro para o desenvolvimento das "startups", assim como dos setores de inovação dentro das empresas. É usual a queixa do empresariado acerca da carestia e do risco elevado em investir em inovação no País.

O fato de o governo federal enxergar a relevância de conceder crédito com condições especiais às empresas que desejam inovar deverá dar fôlego ao processo de modernização. Claro que tal esforço deveria ter sido realizado muito antes, mas, no Brasil, largar atrás da concorrência é tão comum quanto incômodo.

O incentivo setorial, sozinho, não colocará o País completamente dentro dos modelos de produção que estão amadurecendo nas grandes potências econômicas, porque persistem entraves arcaicos os quais precisam desaparecer do ambiente de negócios. A excessiva burocratização e a complexa e pesada carga tributária são inimigas do empreendedorismo e, por consequência, do progresso tecnológico da indústria.

Por mais que o crédito funcione como agente facilitador das iniciativas inovadoras, por trás, é imprescindível a existência de uma atmosfera hospitaleira aos empreendedores, questão que ainda apresenta defasagem no Brasil, com seus impostos cáusticos e contraproducentes.

Recente estudo da Confederação Nacional de Indústria aponta que a indústria precisa, prioritariamente, evoluir na aplicação nas cadeias produtivas, no desenvolvimento de fornecedores e tecnológico, ampliação e melhoria da infraestrutura de banda larga, aspectos regulatórios, formação de recursos humanos e articulação institucional.

Por óbvio, são imensos os desafios que a indústria tem pela frente para galgar degraus e se modernizar. Observam-se, neste momento, os passos preliminares, os quais precisam ser sucedidos e acompanhados por diversas outras iniciativas de valor estratégico.