Condição das rodovias

A avaliação das estradas federais no Ceará apresentou melhora nos últimos anos, mas ainda está muito distante do razoável. A nova edição do Anuário CNT do transporte, divulgada pela Confederação Nacional do Transporte, aponta que, entre 2007 e 2017, a classificação boa ou ótima passou de 17% para 39% dos 2.194 quilômetros examinados, enquanto o selo de regular, ruim ou péssimo na malha rodoviária federal caiu de 80% para 60%.

O estudo, que usou como parâmetros a qualidade da pavimentação, a sinalização e a geometria das vias, indica a lenta ampliação na qualidade das estradas federais que cortam o território cearense. Com o crescimento econômico do Estado acima da média nacional e as perspectivas de evolução no PIB local pelos próximos anos, impulsionadas pelo advento de investimentos de grande porte, faz-se necessário que a otimização da infraestrutura rodoviária seja mais acelerada.

As BRs são importantes artérias para o escoamento de mercadorias internamente e para outros estados. A exorbitante dependência do transporte terrestre - responsável pela movimentação de mais de 60% das mercadorias e de 90% dos passageiros - faz com que a qualidade dessas estradas seja ainda mais vital.

No ano passado, a CNT divulgou outro estudo em que calculou que o custo operacional e logístico no Ceará é quase 28% maior do que deveria por conta das condições inadequadas de trafegabilidade das rodovias.

A degradação rodoviária é uma deficiência que se encontra por todo o País. De acordo com a CNT, o crescimento da frota de veículos é desproporcional à melhora nas condições estruturais das estradas brasileiras. Entre as várias constatações do Anuário do Transporte, destaca-se no rol dos mais gritantes a de que somente 12,4% da malha rodoviária é pavimentada. Entre 2009 e 2017, a frota aumentou 63%, aproximando-se dos 100 milhões de veículos, mas o País claramente não conduziu os investimentos necessários para comportar satisfatoriamente esse crescimento.

Por conta do estado ruim das estradas, o setor produtivo e o consumidor são punidos. O alto preço da ineficiência estatal em entregar vias em condições cabíveis é pago pelos contribuintes empresas e pessoas físicas, na forma de despesas operacionais e produtos mais caros. As reivindicações por investimentos efetivos na área são tão antigas quanto as promessas de que o quadro será modificado. Mas, se nem mesmo quando jorrava dinheiro dos cofres públicos para obras estruturais se obteve o avanço reclamado, imaginar que isso ocorrerá com o atual regime de contenção de despesas seria exageradamente otimista.

Durante a greve dos caminhoneiros, em que as estradas federais foram bloqueadas, as categorias envolvidas se limitaram a forçar acordos gananciosos que se opõem ao desenvolvimento nacional, como o tabelamento do frete, sancionado pelo presidente da República neste mês. Enquanto isso, nada foi acertado com o governo em prol do investimento na infraestrutura, o que beneficiaria não só motoristas e transportadoras, como toda a cadeia que produz.

No Ceará, a situação logística é atenuada em razão dos recentes e contínuos aportes nas rodovias estaduais, as quais, ressalte-se, estão em estado melhor que as federais. O programa Ceará de Ponta e Ponta prevê o investimento total de R$ 2,8 bilhões em restauração, pavimentação e duplicação de vias. Isso é essencial para que haja consonância entre os planos de crescimento econômico do Estado e a infraestrutura necessária para tal.