Clodô e a urina milagrosa

Este causo, ouvido de ledor, possui leve aparência com dois descritos em fontes distintas. Os livros “Histórias que Vi, Ouvi e Contei”, do engenheiro e cratense Carlos Eduardo Esmeraldo, e “Estórias Ouvidas”, do médico e professor universitário pernambucano Veloso da Costa.

Rico latifundiário alagoano, proprietário de fazendas e senhor de engenho, o coronel Clodomiro Ferreira adorava seus valiosos cavalos, maior parte adquirida na Europa.
Um dos animais, o mais caro e preferido, denominado Raio Vienense, fez-se triste, enfastiado e definhando a olhos vistos.

Grandemente preocupado, Clodô, como o chamavam familiares, contratou veterinários e médicos, de Maceió e de Recife.

O belo espécime foi meticulosamente examinado e medicado, com recomendações de cuidados no tratamento. Nenhuma melhora.

Velho compadre, ao saber, indicou-lhe Mundico Pretinho, milagreiro na salvação de bichos.

Simples olhado, receita dada e garantia de volta da saúde. “Todas as vezes que vosmecê for mijar, mije nos cascos do animal! E enquanto se alivia, tire a vista do bruto e fique alisando a crina, espiando o cocho e a prateleira dos preparos do doutor. Basta isso e vamos ver o resultado!”.

Assim, nas manhãs, tardes e noites, abundante urina molhava as patas do equino e observações davam-se. Inexistência de comida. Falta de água. Vidros de remédios cheios. Pelo sujo e não escovado. Baia sem limpeza e até com carrapatos.

A cada micção, exigia atenções e os devidos cuidados do tratador para desleixos constatados.

Passada duas semanas, Raio Vienense estava restabelecido. Cobria tantas éguas quanto viessem no dia. Comia a mais não poder, igual a “esmeril francês”, no dito popular.
O coronel, crendo possuir “urina milagrosa”, somente aliviava a bexiga nas unhas do plantel e recomendava: “Quem cura cavalo é o mijo do dono!”.


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