Chapeado nº 90

Distante do cotidiano, reminiscências vivificam fatos desconhecidos pelos jovens. Assim, o artiguete Chapeado nº 18, aqui publicado, despertou lembranças de vários ledores. Daqui e do Interior. A senhora Edith Pinheiro, cratense, lembrou-se de Joaquim Alves Correia, nascido em Assaré e adotante do Crato para viver. Fez-se o Chapeado nº 90 ou, somente "Noventa", figura popular na terra do Padre Cícero. Tornou-se querido por todos.

Adentrava as residências, dada a profissão. Muito observador e não menos crítico. "Pobre, 'arremediado' e rico têm a mesma mania esquisita. Botam os santos pra ver seus bate-coxas e escandelícias. Com os oratórios e os crucifixos na alcova". Apesar de pouco letrado, lia revistas usadas. César Pinheiro, pai de nossa informante, dava-lhe, costumeiramente, O Cruzeiro e Manchete. Numa das ocasiões, juntou algumas mais na dádiva. Dia seguinte, Noventa devolveu duas. "Seu César, num teve diacho que lesse! As letras tão tudo misturadas!". Eram periódicos da Checoslováquia.

Na facilitação de entregas, usava um carrinho. E, na frente, escreveu: "Uma mão lava a outra". Um gaiato, leu e perguntou: "E as duas?". Pronta resposta: "O fiofó de sua santa mãezinha!". Casou-se três vezes. Povoou o Crato com dezenove filhos. Maria Vicência foi a última esposa. Foto circunspecta do casório, na posse de Edith, bem poderia ilustrar o Blog do Crato, em matéria que indico, de autoria de José Flávio Vieira, sobre o "sanguíneo, atarracado, delicado e com voz de barítono". Joaquim faleceu em 18/02/1994, entrando na história mítica local. Em futuro, outros chapeados citaremos.

Geraldo Duarte. Advogado e administrador