'Cem Anos de Solidão'

Quando li o romance 'Cem Anos de Solidão', do colombiano Gabriel Garcia Márquez, prêmio Nobel de literatura de 1982, fiquei admirado com aquela história tão inacreditável que pensei em parar a leitura, o que teria sido um desatino. O autor conta a saga da família Buendia, uma estirpe de solitários que habitavam uma mítica aldeia, perdida nos confins das terras do sem-fim, perto de onde o vento faz a curva. O livro começa assim: "Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendia havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo... Macondo, onde ele nasceu, era então uma aldeia de vinte casas de barro e taquara",... Fundada por seus pais, José Arcádio e dona Úrsula.

Esse coronel Buendia, personagem principal da estória, haverá de contar no decorrer do livro tantas estripulias, que só parei de ler alta madrugada. Teve 17 filhos varões com 17 mães diferentes, mas nunca conheceu nenhuma delas porque, à época, o fanatismo das mulheres era tanto que faziam as filhas adolescentes dormirem com os mais notáveis guerreiros, para "melhorar a raça".

O coronel só veio a conhecer a prole quando já era adulta. Todos eles se chamavam Aureliano, porém tinham o sobrenome da mãe. O incrível é que, passado algum tempo, todos foram mortos em lugares diferentes, mas no mesmo dia. Exceto um, o Aureliano Amador. Essa estória é de arrepiar, pois o autor conta a saga daquela família que se extinguiria quando um filho nascesse com "rabo de porco," ou seja, nascesse de um incesto... E isso não era difícil, pois naquela casa nascera a linda bisneta de dona Úrsula, Remédios. Não obedecia às convenções e quanto mais o tempo passava mais ficava provocante, incendiando os homens. De certa feita, quando os 17 filhos do coronel Aureliano visitaram o pai, dona Úrsula a advertiu: "Abra bem os olhos". Entretanto, a bela Remédios teria morrido de rir se tivesse sabido daquela precaução. Até o último instante em que esteve na Terra, ignorou o quanto era perturbadora e em casa andava coberta somente de uma bata, sem nada por baixo. Era um pecado... Vale a pena ler as quase 400 páginas desse livro e o fim da dinastia.

Rui Pinheiro Silva

Coronel reformado do Exército