Bênção das cruzes

Dia do encerramento das Santas Missões no município. Praça da Matriz enfeitada. Canteiros floridos. Bandeirolas e palmas de coqueiros nos postes. Banda de música, no coreto, em retreta. Comemorada fazia-se, também, a data de São Benedito, padroeiro da cidade e dos cozinheiros.

O religioso evangelizador, frade Franciscano conhecido por seus dotes bíblicos, oratórios e caritativos pregara os dogmas da venerada Madre Igreja. Principiara nas matinas, seguira-se em alvorada festiva e instalação de um cruzeiro defronte ao templo principal do lugar. Entrada ritualística dos fiéis. Missa cantada pelo coral da paróquia, leitura da homilia, enriquecida de sermão especial dedicado à população. À tarde, procissão pelas ruas com Te Deum e, ao final, bênçãos sacerdotais. Para este ato católico, além da benzedura coletiva, o pregador solicitara, durante a semana, que cada um dos fiéis participantes trouxesse uma cruz, trabalhada com esmero ou, até mesmo, tosca. Bento e indulgenciado, o símbolo maior da fé cristã e do drama de martírio do Salvador, seria venerada no lar, representaria lembrança daquele acontecimento católico e daria proteção à casa e à família. Momento solene e emocionante do coroamento da Santa Missão.

O capuchinho, dirigindo-se aos partícipes, encareceu que, contritos e cheios de fé, com as duas mãos, elevassem bem alto seu crucifixo. De repente, o missionário espanta-se. Um homem agigantado suspendeu magérrima mulher acima da cabeça. Perguntado pelo oficiante o porquê da estranha atitude, respostou: "Esta é minha cruz e peço-lhe que diminua meu calvário, benzendo-a!".

Geraldo Duarte
Advogado e administrador