Aporte à agricultura

O governo do Estado anunciou pacote de investimentos para a agricultura familiar que soma R$ 660 milhões. A série de aportes foi revelada no simbólico Dia de São José (19 de março), que tradicionalmente marca o despertar da esperança por chuvas no Ceará.

É prudente reforçar, neste quadro hídrico crítico, as ações que possam garantir a subsistência dos pequenos agricultores, cujo trabalho é vital para o abastecimento alimentar da população. Governo nenhum possui poder sobre as chuvas, mas cabe dar respostas rápidas e efetivas quando as condições meteorológicas são desfavoráveis. E assim tem sido feito.

As medidas apresentadas pelo governador Camilo Santana incluem montantes a serem direcionados para o abastecimento de água, projetos produtivos e aquisição de máquinas. Já foi realizada a entrega de 173 tratores, superando R$ 21 milhões, mediante o Programa de Mecanização Agrícola do Projeto São José.

Somando-se recursos provenientes de convênio assinado com o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e também do Projeto Paulo Freire, está prevista a construção de mais de 8 mil cisternas. O Executivo estadual liberará, ainda, R$ 83 milhões para 478 comunidades rurais e entregará títulos de terra a agricultores familiares.

Conforme o governo federal, a agricultura familiar é responsável por produzir 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros. De acordo com o último Censo Agropecuário do IBGE, aproximadamente 84% dos estabelecimentos rurais são de base familiar, ocupando 74% da mão de obra campestre. Contudo, a sustentabilidade de muitos desses negócios de pequeno porte, não raro, é ameaçada. No Nordeste, mais de 70% dos produtores se veem incapazes de gerar lucro suficiente para elevar a renda familiar para além da linha de pobreza.

Portanto, mostra-se essencial o empenho em fazê-los menos dependentes da incidência pluviométrica, objetivo que requer investimentos em múltiplas frentes. Além da ampliação do maquinário e da construção de poços profundos e cisternas, os quais facilitam a captação de água, a inovação na agricultura é apontada como meio para fortalecer a agricultura familiar, podendo maximizar o potencial econômico, modernizar o setor e romper o paradigma de que tais empreendedores buscam apenas a subsistência. Eles podem alçar voos mais altos com a adesão de técnicas e aparato tecnológico moderno, os quais otimizam a produção e o planejamento. O reúso da água e a utilização de fontes renováveis de energia também podem contribuir.

Ao analisar a situação hídrica deste mês de março, percebe-se que o apoio financeiro e estrutural do governo é imprescindível. As estatísticas pluviométricas conhecidas ainda são parciais, mas o sinal de alerta já deve estar ligado. De 1º até 19 de março, choveu apenas 47 milímetros, o equivalente a 23% da média aceitável para o mês, 203 milímetros.

A quadra chuvosa vai até maio, porém é preocupante o volume registrado no mês que historicamente recebe as principais precipitações. Em entrevista, o secretário de Recursos Hídricos admitiu que o Estado se encaminha para o sétimo ano consecutivo de seca.

Diante dessa possibilidade, o peso de medidas de reação por parte das autoridades é ainda maior. Para os pequenos agricultores, os investimentos anunciados, além das consequências práticas, possuem ainda efeito moral, na medida em que evidenciam o apoio público em tempos de apreensão.