Apoio à pesquisa

O apoio à pesquisa e à inovação se torna aliado importante no desenvolvimento à medida que produz pluralidade de resultados bem superiores aos valores e tempo investidos. Mas os recursos destinados ao setor padecem uma trajetória de declínio com a crise nas contas públicas. Os cortes no setor passaram a integrar a rotina da programação orçamentária. 

A cada restrição de verba cresce a magnitude da ameaça de estagnação na indústria, agricultura, pecuária, saúde e em várias áreas que dependem da aplicação de capital na ciência para galgar novos espaços.

Os recursos do governo federal transferidos para ciência e tecnologia somavam cerca de R$ 10 bilhões em 2010. Para este ano, a previsão é que os investimentos se aproximem de R$ 1,4 bilhão. Já o orçamento empenhado para maior agência brasileira de financiamento da pesquisa, o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), era de R$ 3,3 bilhões há três anos. Em 2019, deve receber R$ 800 milhões.

A redução de verbas traduz desrespeito ao percurso da pesquisa científica no Brasil, a qual coleciona conquistas reconhecidas mundialmente por sua relevância. O médico sanitarista Carlos Chagas trouxe contribuição singular ainda no início do século XX ao descrever, pela primeira vez, o ciclo completo da doença que leva hoje seu nome. 

Mais recentemente, a comunidade científica brasileira garantiu um passo crucial na luta contra a zika, ao provar a relação da enfermidade com o nascimento de crianças com microcefalia. No Ceará, foi o apoio à ciência que possibilitou a descoberta do tratamento pioneiro de queimaduras graves a partir da utilização da pele de tilápia.

Na agropecuária, o incentivo à inovação tem sido o sustentáculo para que o setor apresente bons resultados e transmita fôlego ao Produto Interno Bruto (PIB). A aumento da produtividade se deve, sobretudo, à pesquisa. 

O peso que a soja passou a ter na pauta das exportações exemplifica bem tal influência. A atuação da cientista naturalizada brasileira Johanna Dobereiner foi decisiva para que caísse o custo da produção desse cereal. Ela conseguiu um método para diminuir o uso de adubos e defensivos agrícolas. Tal descoberta logo refletiu em ganho de competitividade no mercado internacional.

Além da limitação de recursos, a pesquisa científica tropeça ainda em entraves burocráticos. Em média, o processo de registro de novas patentes demora 11 anos para ser concluído. O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) possui aproximadamente 230 mil pedidos que aguardam a análise.

Os cortes na ciência também acendem o sinal de alerta para a indústria. Enquanto as fábricas instaladas nos países desenvolvidos alcançam o nível mais elevado de conexão da produção com tecnologias da informação e comunicação integradas, as empresas brasileiras ainda estão em fase embrionária. Estudo publicado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) estima que apenas 1,6% das unidades nacionais estão inseridas na era chamada de Indústria 4.0.

O atraso em relação ao exterior pode levar a que as indústrias nacionais não atendam a toda demanda de consumo interno. Se isso ocorre, cresce o volume de bens importados com maior valor agregado, desequilibrando a balança comercial e afetando a arrecadação. Negligenciar a pesquisa científica é prejudicar a construção de um futuro no qual estejam assegurados o bem estar da sociedade e o mercado de trabalho estável.